SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA!!!!
Santo
António (português europeu) ou Antônio (português brasileiro) de Lisboa, também conhecido como Santo
António de Pádua[nt 1], OFM (Lisboa,
15 de agosto de 1191-1195?
— Pádua, 13 de junho de 1231),
de sobrenome incerto mas batizado
como Fernando, foi um Doutor da Igreja que viveu na viragem dos
séculos XII e XIII[1].
Primeiramente foi frade agostiniano no Convento
de São Vicente de Fora, em Lisboa, indo posteriormente para o Convento
de Santa Cruz, em Coimbra,
onde aprofundou os seus estudos religiosos através da leitura da Bíblia
e da literatura patrística,
científica e clássica.
Tornou-se franciscano
em 1220 e viajou muito, vivendo inicialmente em Portugal,
depois na Itália e na França,
retornando posteriormente à Itália,
onde encerrou sua carreira. No ano de 1221 fez parte do Capítulo Geral da Ordem em Assis. De fato, Francisco,
o fundador, o convocou, assim como a todos os outros frades
da ordem. Posteriormente, quando sua eloquência e cultura teológica tornaram-se
conhecidas, foi nomeado mestre em Teologia em Bolonha, tendo, a seguir, pregado
contra os albigenses e valdenses em diversas cidades do norte da Itália
e no sul França. Em seguida foi para Pádua,
onde morreu aos 36 (ou 40) anos.
A sua fama de santidade levou-o a ser
canonizado pela Igreja Católica pouco depois de falecer, distinguindo-se como teólogo, místico, asceta
e sobretudo como notável orador e
grande taumaturgo. António é também tido como um dos
intelectuais mais notáveis de Portugal do período pré-universitário. Tinha
grande cultura, documentada pela coletânea de sermões escritos que deixou, onde
fica evidente que estava familiarizado tanto com a literatura religiosa como
com diversos aspetos das ciências profanas, referenciando-se em autoridades
clássicas como Plínio, o Velho,
Cícero, Séneca,
Boécio, Galeno
e Aristóteles, entre muitas outras. O seu grande
saber tornou-o uma das mais respeitadas figuras da Igreja Católica do seu
tempo. Lecionou em universidades italianas e francesas e foi o primeiro Doutor
da Igreja franciscano. São Boaventura disse que ele possuía a ciência
dos anjos. Hoje é visto como um dos grandes santos do Catolicismo, recebendo
larga veneração e sendo o centro de rico folclore.[2]
A sua missão[editar | editar código-fonte]
Aparição do Menino Jesus ao santo
Por essa altura, decidiu deslocar-se ele também a Marrocos, mas, lá
chegando, foi acometido por grave doença, sendo persuadido a retornar. Fê-lo
desalentado, já que não havia proferido um único sermão, não convertera nenhum
mouro, nem alcançara a glória do martírio pela fé. No regresso, uma forte
tempestade arrastou o barco para as costas da Sicília,
onde encontrou antigos companheiros. Ali se quedou até a primavera de 1221,
dirigindo-se com eles então para Assis a fim de participarem do Capítulo da Ordem — o último que seria feito
com a presença do fundador.[11]
Em Assis encontrou-se com São Francisco de Assis e os seus primeiros
seguidores, um evento de grande importância em sua carreira. Sendo designado
para um eremitério em Montepaolo, na província da Romagna, ali
passou cerca de quinze meses em intensas meditações e árduas disciplinas.[12]
Pouco depois aconteceu uma ordenação de frades em Forlì, quando
deixou o isolamento e para lá se dirigiu. Até então os franciscanos não sabiam
de sua sólida formação, mas faltando o pregador para a cerimónia, e não havendo
nenhum frade preparado para tal, o provincial solicitou a António que falasse o
que quer que o Espírito Santo inspirasse. Protestou, mas obedeceu,
e dissertando para os franciscanos e dominicanos
lá reunidos de forma fluente e admirável, para a surpresa de todos, foi de
imediato destinado pelo provincial à evangelização e difusão da doutrina pela Lombardia.
Entretanto, a prática franciscana desencorajava o estudo erudito, mas em
novembro de 1223 o papa Honório III sancionou a forma final da Regra da Ordem
Franciscana, autorizando uma formação mais aprimorada, desde que submissa ao
trabalho manual, à prece e à vida espiritual. Recebendo a aprovação para a
tarefa pastoral do próprio Francisco, fixou-se então em Bolonha, onde se
dedicou ao ensino da teologia na universidade e à pregação. Deslocando-se em
seguida para a França, ensinou nas universidades de Toulouse e Montpellier, passando também por Limoges.[13][14]
Em 1226 assistiu ao Capítulo de Arles, e em outubro
do mesmo ano, após a morte de Francisco, serviu como enviado da Ordem ao papa Gregório IX, para apresentar-lhe a Regra da
Ordem.[15]
Em 1227 foi indicado ministro provincial da Romanha, e
passou os três anos seguintes pregando na região, incluindo Pádua, para
audiências cada vez maiores. Nesse período colocou por escrito diversos
sermões. Participou do Capítulo Geral em Assis,
em 1230, onde também assistiu no translado dos restos
mortais de São Francisco de Assis da Igreja de São Jorge para a nova basílica.[16]
Neste mesmo ano de 1230, solicitou ao papa dispensa de suas funções como
provincial para dedicar-se à pregação, reservando algum tempo para a contemplação
e prece no mosteiro que havia fundado em Pádua. Sempre trabalhando pelos
necessitados, envolveu-se também em questões políticas, a exemplo de sua viagem
a Verona para
pedir a libertação de prisioneiros guelfos feitos
pelo tirano gibelino
Ezzelino, e em 1231
persuadiu a municipalidade de Pádua a elaborar uma lei que impedia a prisão por
dívidas se houvesse a possibilidade de compensação de outras formas.[15]
Últimos dias[editar | editar código-fonte]
Tumba e altar do santo na sua basílica de Pádua
Pouco depois da Páscoa de 1231 sentiu-se mal, declarou-se hidropisia
e ele deixou Pádua para dirigir-se ao eremitério de Camposanpiero, nos
arredores da cidade.[17]
Outras versões dizem que terá sido hospedado pelo conde Tiso, devido ao
estado de saúde precário,[16]
ou que seus companheiros ergueram-lhe uma cabana no alto de uma árvore, onde
teria permanecido alguns dias.[17]
Percebendo que a morte estava próxima, pediu para ser levado de volta a
Pádua, mas apenas tendo alcançado o convento das clarissas de
Arcella,
subúrbio de Pádua, ali faleceu, em 13 de junho de 1231. As clarissas reclamaram
seu corpo, mas a multidão acabou sabendo de seu passamento, tomou-o e o levou
para ser sepultado na Igreja de Nossa Senhora. Sua fama de santidade era
tamanha que foi canonizado logo no ano seguinte, em 30 de maio, pelo papa
Gregório IX. Os seus restos mortais repousam desde 1263 na Basílica de Santo António de Pádua,
construída em sua memória logo após sua canonização. Quando sua tumba foi
aberta para iniciar o processo de translado, sua língua foi
encontrada incorrupta, e São
Boaventura, presente no ato, disse que o milagre era prova de que sua
pregação era inspirada por Deus. Foi proclamado Doutor
da Igreja pelo papa Pio XII em 16 de janeiro de 1946 e é comemorado no dia 13
de junho.[17]
Sua pregação, seus escritos e
a presença contemporânea de sua obra[editar | editar
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Santo António em pintura de Alvise
Vivarini
Entre suas várias qualidades, chamou a atenção de seus contemporâneos
seu admirável dom como pregador, com uma eficácia tanta que lhe foi dado o
apelido de malleus hereticorum (o martelo dos heréticos). Muitas
descrições de época referem o fascínio que sua fala exercia sobre as multidões
de pessoas simples e também sobre clérigos doutos, e embora o efeito de sua
oração a viva voz não possa mais ser recuperado, seu estilo e os conteúdos que
abordava podem ser conhecidos em parte através dos 77 sermões que sobreviveram
e constam em sua obra publicada em edição crítica, Sermões Dominicais e
Festivos, e que são considerados autênticos, conforme disse José Geraldo Freire.
São textos eloquentes, persuasivos, cheios de zelo messiânico,
sendo frequentes a defesa do pobre e a reprimenda do rico, e o combate às heresias de seu
tempo, como as dos albigenses e valdenses.[1][15]
A tradição atribui seu dom à inspiração divina, entretanto é impossível
deixar de considerar o importante papel que sua formação erudita desempenhou
neste aspecto de sua vida e obra. A análise das referências que fez em seus
escritos, junto com o levantamento das fontes literárias presentes em seu tempo
nas bibliotecas que frequentou, especialmente a de Santa Cruz, atestam sem
sombra para dúvidas que sua preparação intelectual foi ampla e profunda.[18]
Além de um conhecimento detalhado da Bíblia, dos
escritos dos Padres da Igreja e outros escritores cristãos, são encontradas
citações de clássicos como Aristóteles,
Cícero, Catão,
Sócrates,
Dioscórides,
Donato,
Eliano, Escribónio, Euquério de Lião, Festo Solino, Filão de Alexandria, Tibulo, Sérvio, Públio
Siro, Juvenal,
Plínio, o Velho, Varrão, Sêneca, Flávio
Josefo, Horácio,
Ovídio, Lucano e Terêncio.
Seu conhecimento das ciências naturais ultrapassa em muito o currículo regular
das artes liberais medievais, aprofundando-se em áreas
como a medicina,
a física,
a história natural, a cosmografia,
mineralogia,
zoologia, botânica,
astronomia
e óptica.[2][19]
Nas palavras de José Antunes,
"Santo
António de Lisboa, embora muito festejado e venerado como santo pelo povo, é
menos conhecido como um homem de cultura literária invulgar e como um
verdadeiro intelectual da Idade Média. Reveladora dessa cultura ímpar, é a sua
obra escrita, cheia de beleza e densidade de pensamento, como nos testemunham
os seus Sermões, autênticos tesouros da literatura e da história. Vasta,
profunda, extraordinária, a respeito da Bíblia. Ampla, variada e bem apropriada
nas transcrições dos Padres da Igreja e dos autores clássicos. Impressionante,
para o tempo, não apenas pelo conhecimento que revela das ciências naturais e
das humanidades, mas igualmente pelo erudito discurso sobre noções jurídicas,
como Poder, Direito e Justiça".[20]
Santo António pregando aos peixes em pintura de azulejos em Guimarães,
Portugal
Naturalmente, era fiel à ortodoxia cristã. Apesar de sua extensa cultura
profana, considerava a Escritura sagrada a fonte da ciência superior, da
verdadeira ciência, da qual todas as outras eram meras servas e simples
coadjutoras no trabalho da Salvação.
Por isso deu grande importância a uma boa exegese do texto
sagrado, privilegiando a extração do seu sentido moral. Nota-se ainda em sua
obra alguns dos primeiros sinais de um progressivo abandono do pensamento
medieval, que apresentava o homem e o mundo como desprezíveis e fontes do
pecado, abrindo-se a uma apreciação mais positiva da vida concreta e do
relacionamento humano, entendendo o ser humano como uma maravilhosa obra
divina.[21]
Na análise de Pedro Calafate:
"Santo
António não olvidará a excelência da contemplação, mas sublinhará não obstante
a circunstância terrena do homem como corpo e alma, sem deixar de considerar
que a abertura à exterioridade não transforma o amor aos outros e às criaturas
no apego à posse das coisas, estando neste caso o culto da pobreza,
nomeadamente as críticas severas que dirigiu aos prelados e dignatários
eclesiásticos, por se comprazerem nos luxos do século. Tratando-se de uma
espiritualidade que não olvidou a dimensão prática e vivencial, equacionou
também a relação entre a ação e a contemplação no quadro da mística. Filha da
vontade e do amor, numa alienatio mentis que supera o plano estritamente
racional para que a alma, inteiramente conduzida pela graça, contemple Deus
como em espelho ou em enigma, a mística tampouco representará uma renúncia à
vida ativa, nem às exigências da vertente racional do homem, porque a alma
volta e regressa à vida ativa para a realizar com maior perfeição, numa
confluência entre o entender e o contemplar, o saber e a sabedoria".[21]
Contudo, é de dizer que na forma como chegaram, os ditos sermões são
antes um manual didático para os noviços do que transcrições de sermões
verdadeiramente proferidos. Foram produzidos para seus alunos, para instruí-los
na arte predicatória, a fim de que depois eles pudessem converter com sucesso
os pecadores e infiéis à fé cristã. Apesar disso, eles possuem em seu conjunto
pouca ordem sistemática.[22]
Os sermões são ainda um precioso documento de época, muitas vezes
fazendo alusões às transformações sociais e econômicas que ocorriam durante
aquele período, atestando o crescimento das cidades, o florescimento das
atividades artesanais e do comércio, o surgimento das corporações de ofícios,
as diferenças de classes. Além dos conteúdos sacros, que ainda preservam seu
caráter inspirador, tais alusões — onde surge aguda crítica social na
condenação da avareza, da usura, da inveja, do egoísmo, da falta de ética na
administração pública, dos falsos moralistas e hipócritas, dos maus pastores de
almas, do orgulho dos eruditos, dos ricos ensimesmados em sua opulência que
oprimem e excluem os pobres do tecido social — são responsáveis pelo valor
perene e atual de seus escritos, sendo passíveis de imediata identificação com
muitas circunstâncias e contradições da vida contemporânea.[23]
Tradição taumatúrgica[editar
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Ticiano:
O milagre da cura do pé amputado, 1511, Scuola del Santo, Pádua
- Certa feita, meditando à beira-mar sobre a frequente aparição da imagem do peixe nas Escrituras, os peixes ter-se-iam reunido a seus pés para escutá-lo.
- Teria restaurado um campo de trigo maduro para colheita que fora estropiado por uma multidão que o seguia; teria protegido milagrosamente seus ouvintes da chuva que caía durante um sermão, e uma mulher impedida pelo marido de ir ouvi-lo pôde escutar suas palavras a quilómetros de distância.
- Quando em disputa com um herege albigense sobre a presença ou não do Deus vivo na hóstia consagrada, o herege, chamado Bonvillo, disse que se uma mula, tendo passado três dias sem comer, honrasse uma hóstia em detrimento de uma ração de aveia, ele acreditaria no santo. Segundo a história, assim que a mula foi liberta de seu cercado, faminta, desviou-se da ração e ajoelhou-se diante da hóstia que António lhe mostrava.
- Restaurou o pé amputado de um jovem.
- Soprou na boca de um noviço para expulsar as tentações que sofria, confirmando-o em sua vocação.
- Quando alguns hereges colocaram veneno em sua comida para verificar sua santidade, o santo fez o sinal da cruz sobre o alimento, comeu-o e nada sofreu, para o vexame dos seus tentadores.
- Outro milagre famoso trata-se da aparição do Menino Jesus ao santo durante uma de suas orações, uma cena multiplicada abundantemente em sua iconografia.
- Um certa mulher em Ferrara, Itália, deu a luz em meio de uma situação familiar complicada, pois seu marido estava desconfiando que o filho não era dele. Quando Santo António soube da situação, visitou o casal por altura do nascimento, tomou a criança em seus braços e ordenou energicamente ao recém-nascido que dissesse quem era o pai. Ele apesar da idade dele ser de apenas de horas ou de dias apontou ao referido homem e falou sem titubear que era ele de facto[24].
- Durante sua pregação num consistório diante do papa, vários cardeais e clérigos, e gentes de várias nações, discorrendo com sutilíssimo discernimento sobre intrincadas questões teológicas, cada um dos presentes teria ouvido a pregação na sua própria língua materna.[25] Na ocasião, diante de tão assombroso fenómeno, que parecia uma reedição do Pentecostes bíblico, o papa o teria chamado de "a arca do Testamento, o arsenal da Sagrada Escritura".[26]
Iconografia e veneração[editar | editar código-fonte]
Reconstrução facial do santo a partir do seu crânio preservado; por Cícero
Moraes
Estatueta popular de Santo António e o Menino, Museu Municipal de Caxias do Sul
A sua representação iconográfica de longe mais frequente é a de um jovem
tonsurado envergando o hábito dos frades franciscanos, segurando o Menino Jesus sobre
um livro ou entre os braços, a quem contempla com expressão terna, e tendo uma
cruz, ou um ramo de açucenas, na outra mão. Esses atributos podem ser substituídos
por um saco de pão, que distribui entre pobres ou idosos.[27]
Em 2014 um grupo de investigadores, em colaboração com o Museu
Antropológico da Universidade de Pádua, realizou um estudo,
utilizando técnicas forenses, para reconstruir a aparência real da sua face a
partir do seu crânio, que foi preservado. Os resultados foram sintetizados por
Luca Bezzi numa imagem digital, ilustrada ao lado.[28]
O seu esqueleto também foi preservado, bem como sua famosa língua e suas
cordas vocais, além de uma túnica que usava e um manto. Essas relíquias estão
depositadas na basílica do santo em Pádua. Algumas são expostas em caráter
permanente, como sua língua, instalada em um precioso relicário no principal
altar da suntuosa Capela das Relíquias, projetada por Felipe Parodi em 1691, junto com
seu queixo e outros objetos, mas o esqueleto completo só raramente é exposto;
nos últimos quatro séculos o público só o viu oito vezes, quando formaram-se
grandes romarias de devotos para vê-lo. A última exposição ocorreu em 2010,
quando a Capela da Arca foi reformada e voltou a receber seus restos mortais. A
ocasião anterior foi em 1981, para a comemoração dos 750 anos de sua morte.[29]
A língua foi objeto de especial veneração desde o início. Diz a tradição
que, ao ser encontrada incorrupta, parecendo a de uma pessoa viva, o Ministro
Geral da Ordem, São Boaventura, pegando-a na mão, com toda
reverência e em lágrimas, começou a louvá-la dizendo: "Ó língua bendita,
que sempre bendisseste o Senhor e fizeste que também os outros o bendissessem
sempre; pela tua conservação se compreende bem qual o teu mérito diante de
Deus". E cobrindo-a de beijos, pediu que fosse colocada separadamente num
relicário. Em 1351, o Capítulo Geral instituiu a festa da Transladação das
Relíquias, fixando a sua data em 15 de fevereiro.[30]
Hoje a língua está seca e escura.[31]
É considerado padroeiro dos amputados, dos animais, dos estéreis, dos
barqueiros, dos idosos, das grávidas, dos pescadores, agricultores, viajantes e
marinheiros; dos cavalos e burros; dos pobres e dos oprimidos; é invocado para
achar coisas perdidas, para conceber filhos, para evitar naufrágios e para
conseguir casamento.[15]
A devoção popular colocou-o entre os santos mais amados do cristianismo,
cercou-o de riquíssimo folclore e atribui-lhe até aos dias de hoje muitos milagres
e graças. Igrejas a ele consagradas multiplicam-se pelo mundo, tem vasta
iconografia erudita e popular, a bibliografia devocional que ele inspira é
volumosa e em sua homenagem uma quantidade incontável de pessoas recebeu o nome
António, além de numerosas cidades, bairros e outros logradouros públicos,
empresas e mesmo produtos comerciais em todo o mundo também terem seu nome.[32]
Na tradição lusófona Santo António está acima de todos em prestígio. A
sua veneração foi levada de Portugal para o Brasil, onde se enraizou rapidamente
e também dominou o coração do povo. Era tanta a familiaridade que o santo
inspirava, que passou a ser uma espécie de "propriedade privada" de
todos. Como relatou Grillot de Givry, "não há casa que o não venere no seu
oratório e não satisfeita ainda com isso a comum devoção dos fiéis, cada um
quer ter só para si o seu Santo António". Estava em toda parte: "nos
nichos de pedra, pintado em azulejos, a guardar as casas, em caixilhos de seda
à cabeceira da cama a vigiar-nos o sono, nos escapulários e bentinhos junto ao
peito, a acautelar-nos os passos, esculpido e pintado para preservar dos
perigos, pintados nas caixas de esmola, nos santuários e oratórios".
Também era invocado pelos senhores para recuperar escravos fugidos.[33]
A mesma familiaridade criou práticas esdrúxulas no culto popular. Se um
pedido não era atendido, a imagem do santo podia ser submetida a torturas e
castigos. Deitavam-na de barriga para o chão e punham-lhe uma pedra em cima;
escondiam-na num poço escuro, retiravam-lhe o Menino Jesus dos braços, ou
arrancavam-lhe o resplendor. Acreditava-se que o castigo acelerava a concessão
da graça, e explicavam a violência dizendo que em sua juventude o santo
desejara morrer martirizado em nome da fé.[33]
Luminares do clero, como o padre Vieira, também de certa forma reforçavam essas
crenças. Num sermão disse:
"Não
haveis de pedir a Santo António como aos outros, nem como quem pede graça e
favor, senão como quem pede justiça. E assim haveis de pedir a Santo António:
não só como a quem tem por ofício deparar tudo o perdido e demandado como a
quem deve e está obrigado a o deparar. E senão dizei-me: por que atais e
prendei esse santo, quando parece que tarde em vos deparar o que lhe pedis?
Porque deparar o pedido em Santo António não só é graça, mas dívida. E assim
como prendei a quem vos não paga o que vos deve, assim o prendeis a ele. Eu não
me atrevo nem a aprovar esta violência, nem a condená-la de todo, pelo que tem
de piedade".[34]
Ex-votos
dedicados ao santo em Antuérpia
É um dos santos honrados nas popularíssimas Festas
Juninas e diversos costumes folclóricos estão ligados a ele. A título de
exemplo, no Brasil moças casadoiras retiram o Menino Jesus das estátuas e só o
devolvem quando arranjam casamento; uma prece especial, os
"responsos", são feitas para que ele ajude a encontrar objetos
perdidos; no dia da sua festa muitas igrejas distribuem pães especialmente
abençoados, os "pãezinhos de Santo António", que devem ser guardados
numa lata de mantimentos para que não falte alimento na casa.[35]
Ele teve inclusive uma brilhante carreira militar póstuma. Numerosas cidades da
Espanha, Portugal e Brasil conferiram-lhe títulos militares, condecorações,
insígnias e outras honrarias, iniciando-se o curioso hábito quando o regente Dom Pedro ordenou em 1668 que ele fosse
recrutado e assentasse praça como soldado raso no II Regimento de
Infantaria em Lagos, sendo promovido sucessivamente a capitão e coronel. Com o
posto de tenente-coronel, a sua imagem foi levada pelo Regimento de Infantaria N.º 19 em Cascais à frente
dos combates da Guerra Peninsular, recebendo depois uma
condecoração. D. João VI, após o feliz desembarque no Brasil
na sua fuga da invasão napoleónica, nomeou-o sargento-mor,
promovendo-o depois a tenente-coronel. No Brasil foi onde recebeu mais títulos,
recebendo inclusive soldo em vários locais até depois de proclamada a república. Em Igarassu, foi
nomeado oficialmente Protetor da Câmara de Vereadores.[36]
Ele foi declarado padroeiro das cidades de Prudente de Morais,[37]
Santo Antônio do Monte,[38]
Campo Grande,[39]
Miracema, Porciúncula,[40]
Juiz
de Fora,[41]
Santo Antônio de Pádua,[42]
Bento Gonçalves,[43]
Barbalha,[44]
Curvelo,[45]
Volta
Redonda[46]
e Santo Antônio de Jesus, entre muitas outras.
Foi impressa uma nota de 20$00 Chapa 7 de Portugal, a qual ficou famosa, com a sua
imagem.
Festividades[editar | editar código-fonte]
Um trono para o santo montado na janela de uma casa em sua festa em
Lisboa.
Devido à sua enorme popularidade, o seu onomástico é comemorado com grandes
festas em todos os locais do mundo onde a devoção se enraizou, movimentando
romeiros, instituições sacras e profanas e também o comércio, e nas cidades
onde os festejos são tradicionais e importantes enchem-se os hotéis, pousadas e
restaurantes e as lojas oferecem recordações de variados tipos, que são
vendidas aos milhares.[47]
Em Portugal se destaca a festa em Lisboa, sua cidade natal. Conceição Lopes
descreveu o cenário:
"A
festa de Santo António. De novo a Avenida da Liberdade enche-se e
desfila com as marchas dos bairros. A festa cheira a sardinha e
a mangericão.[nt
2] Pela noite dentro come-se sardinha, brinda-se ao santo António e
aos amigos da casa, com vinho tinto. Saboreia-se a broa de milho, o pão com
chouriço e o quente caldo verde e tudo num intervalar de danças, de conversas e
outras brincadeiras no arraial do bairro. Fazem-se promessas, acertam-se
namoros. O Santo António tem a devoção das noivas, Se o bendito Santo
António / este ano me casar / cá voltarei para o ano / pôr flores no seu altar,
e celebram-se casamentos na Sé. O manjericão enfeita o trono do Santo existente
em cada bairro. Algumas fogueiras ainda se vêm, resquícios das velhas festas
dos solstícios que celebravam o sol. Cortejos, procissões, quermesses,
romarias, bandas de música, teatro, animação de rua, carrossel, gastronomia,
barraquinhas do sai sempre, os bairros de Lisboa vestem-se de um imenso
colorido a condizer com os comportamentos festivos em honra de Santo António. A
iconografia da festa do Santo António ocupa as montras dos comerciantes da
cidade e faz aumentar o negócio ao qual o jogo da Lotaria de Santo António
também rende homenagem e fiéis do jogo. Tudo bate certo, se conjuga e harmoniza
até o apadrinhamento do santo que desfila na procissão pela cidade, ou do altar,
assiste ao sermão na Igreja, parecendo dar a bênção à respeitabilidade e
seriedade da festa que o santo reconhece e as instituições aproveitam".[47]
Festa de Santo António em Itatiba, estado de São Paulo, em 1946.
No Brasil o santo é comemorado com entusiasmo semelhante. Na região Nordeste uma das maiores festas se
dá em Barbalha,
no estado do Ceará,
durando vários dias. Inicia com a busca na mata de um pau que possa servir de
mastro para a bandeira do santo, ocasião já cercada de ritualidade. Antes do
corte, é feita uma oração que pede permissão à mata para a retirada e faz
homenagem ao santo padroeiro, pedindo sua bênção para que o percurso aconteça
sem acidentes. Quinze dias depois abrem-se os festejos com a celebração de uma
missa onde os devotos oferecem votos e presentes entre a cantoria dos repentistas,
agradecendo as boas colheitas e a prosperidade, seguida de uma grande procissão
onde se carrega o pau da bandeira até a frente da Matriz, quando a bandeira é
hasteada entre fogos de artifício. Diz a tradição que as moças que tocarem no
pau da bandeira casarão dentro de um ano. Em seguida as ruas da cidade se
enchem com um cortejo de manifestações folclóricas regionais, como o Reisado de
Couro e de Bailes, a Lapinha, os Penitentes e o Reisado do Congo, com suas
lutas de espadas, acompanhados de vaqueiros, quadrilhas, música de forró e danças
de capoeira,
maculelê,
maneiro pau e pau de
fitas. A festa encerra no dia 13 de junho com outra procissão com a imagem
do santo carregada em um carro decorado, que inclui o cortejo de vários outros
santos venerados na região. Pela sua importância a festa em Barbalha foi
inscrita no registro de bens do patrimônio imaterial mantida pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.[50]
A bênção dos pães de Santo António na cidade de Santo Antônio de Lisboa, no Piauí.
Também pode ser citada como importante a festa em Campo Grande, a maior da cidade,
da qual António é padroeiro, subsidiada pela Prefeitura e contando com a
participação de cerca de cem entidades beneficentes, atraindo cinquenta mil
pessoas de toda a região que fazem suas devoções e ao mesmo tempo se divertem
com shows, danças e jogos.[51]
Em Borba a festa de Santo António é a maior do
interior do Amazonas,
já tem mais de dois séculos de tradição e a basílica da cidade é a única da região Norte a possuir uma relíquia do
santo.[52][53]
Em Salvador, na Bahia, o santo é
reverenciado em praticamente todas as paróquias com a celebração da trezena,
procissões e carreata, culminando com a missa festiva no dia 13 de junho,
havendo duas igrejas com seu nome em que as festividades são bem mais intensas,
quais sejam, Santo Antônio Além do Carmo, no centro histórico de Salvador e em
Santo Antônio da Barra, sem esquecer a tradicional distribuição do pão bento.[54]
A festa de Osasco,
no estado de São Paulo, foi incluída no Calendário Turístico do Estado de São
Paulo.[55]
Boqueirão,
no estado de Minas Gerais, comemora sua festa há 267 anos, atraindo
romeiros de várias regiões de Minas, Goiás e Brasília
ao longo de dez dias de festejos.[56]
No sincretismo religioso, Santo António é conhecido no Candomblé
como Exu, o orixá da
comunicação.[57]
Também é identificado com Ogum, deus da guerra, também capaz de abrir os caminhos.[58]
Museu Antoniano em Lisboa[editar | editar código-fonte]
Ver artigo
principal: Museu Antoniano
Situado perto da Sé Patriarcal de Lisboa, o Museu Antoniano
é um museu monográfico dedicado à vida e veneração do santo, exibindo, em exposição
permanente, objetos litúrgicos, gravuras, pinturas, cerâmicas e objetos de
devoção que evocam a vida e o culto ao santo. O museu fica anexo à igreja,
local onde, de acordo com a tradição, nasceu o santo.[59][60]
Notas
- Ir para cima ↑ Santo António é reverenciado pelos povos de língua portuguesa quase apenas como Santo António de Lisboa. É mais conhecido em outros países como Santo António de Pádua, por ter vivido e falecido nessa cidade italiana porque, regra geral, os santos católicos são conhecidos pelo nome da cidade onde falecem, onde geralmente permanecem as suas relíquias, e não onde nascem, como é o caso.
- Ir para cima ↑ A autora do artigo citado menciona "mangericão", referindo-se provavelmente a manjericão. No entanto, a planta mais comum da associada à festa de Santo António é o manjerico (Ocimum minimum L.).[48][49]
Referências
- ↑ Ir para: a b c d Freire, José Geraldo. Santo António de Lisboa. Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, s/d. s/p. Acedido a 15 de abril de 2010
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Fonte: tudo isso foi retirado da: https://pt.wikipedia.org/wiki/Santo_António_de_Lisboa
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E VIVA SANTO ANTONIO MINHA GENTE!!!!!
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