Caio Júlio César[a] (em
latim:
Caius ou Gaius Iulius Caesar ou
IMP•C•IVLIVS•CÆSAR•DIVVS[1];
13 de julho de
100 a.C.[b] –
15 de março de
44 a.C.[c]) foi um
patrício, líder
militar e
político romano. Desempenhou um papel crítico na transformação da
República Romana no
Império Romano. Muito da historiografia das campanhas militares de César foi escrita por ele próprio ou por fontes contemporâneas dele, a maioria, cartas e discursos de Cícero e manuscritos de
Salústio. Sua biografia foi posteriormente melhor escrita pelos historiadores
Suetônio e
Plutarco. César é considerado por muitos acadêmicos como um dos maiores comandantes militares da história.
Nascido em uma família patrícia de pequena influência, César foi galgando seu lugar na vida pública romana. Em
60 a.C., ele e os políticos
Crasso e
Pompeu formaram uma aliança (o
Primeiro Triunvirato) que acabou dominando a
política romana por anos. Suas tentativas de manter-se no poder através de táticas
populistas enfrentavam resistência das
classes aristocráticas conservadoras do
senado romano, liderados por homens como
Catão e
Cícero. César conquistou boa reputação militar e dinheiro durante as
Guerras Gálicas (58–50 a.C.), expandindo os domínios romanos para o norte até o
Canal da Mancha, anexando a Gália (atual
França), e no leste até o
Reno (dentro da atual
Alemanha). Ele também se tornou o primeiro general romano a lançar
uma incursão militar na
Britânia.
Suas conquistas lhe deram enorme poderio militar e respeito, que acabou ameaçando a posição do seu companheiro político, e agora rival, Pompeu Magno. Este último havia mudado de lado, após a
morte de Crasso em
53 a.C., e agora apoiava a ala conservadora do senado. Com a guerra na
Gália encerrada, os senadores em Roma exigiram que César dispensasse seu exército e retornasse à capital. Recusou-se a obedecer e em
49 a.C. cruzou o
rio Rubicão com suas
legiões, entrando armado na
Itália (em violação da lei romana que impedia um general de marchar em Roma). Isso precipitou uma violenta
guerra civil, que terminou com uma vitória de César, com ele assumindo poder total na República.
Em
49 a.C., César assumiu o comando em Roma como um
ditador absoluto. Ele iniciou então uma série de reformas sociais e políticas, incluindo a criação do
calendário juliano. Continuou a centralizar o poder e a burocracia da República pelos anos seguintes, dando a si mesmo grande autoridade. Porém a ferida da guerra civil ainda estava aberta e a oposição política em Roma começou a conspirar para derrubá-lo do poder. As conspirações culminaram nos
Idos de Março em
44 a.C. com o
assassinato de César por um grupo de senadores aristocratas liderados por
Marco Júnio Bruto. Sua morte precipitaria uma
nova guerra civil pelos espólios do poder e assim o
governo constitucional republicano nunca foi totalmente restaurado. O seu sobrinho-neto, Caio Otaviano, foi feito seu herdeiro em testamento. Em
27 a.C., o jovem passaria para a história como
Augusto, o primeiro
imperador romano, adotando o título de
César e reivindicando para si o seu legado político.
Infância e carreira inicial
Denário de Júlio César com imagem de elefante.
Júlio César nasceu em uma família
patrícia, a
gente Júlia, que afirmava ser descendente de
Ascânio, filho do legendário
troiano Eneias, que por sua vez era, segundo a mitologia romana, filho da deusa
Vênus. O seu
cognome "César" se originou, de acordo com
Plínio, o Velho, com um ancestral seu nascido de
cesariana (palavra do latim que quer dizer "cortar",
caedere,
caes).
[d] A
História Augusta sugere três razões para o seu nome: a primeira é que César nasceu com muito cabelo (em latim
caesaries); que tinha olhos cinza bem claro (em
latim:
oculis caesiis); ou que matou um elefante (
caesai) em batalha. O próprio César mandou fabricar moedas com retrato de elefantes, sugerindo que favorecia esta interpretação do seu nome.
[6]
Apesar de pertencer a uma família tradicional da aristocracia romana, os Júlios Césares (
Julii Caesares) não eram muito influentes politicamente em Roma, apesar de que, no século anterior, membros desta família conseguiram altos cargos na
República. O pai de César, também chamado
Caio Júlio César, governou a província da
Ásia,
[8][9][10][11] e sua tia
Júlia era casada com o general
Caio Mário, uma das figuras políticas mais importantes em Roma naquela época. Sua mãe,
Aurélia Cota, era membro influente na família. Pouco é sabido sobre a infância de César.
[8][9]
Em
85 a.C., o pai de César morreu subitamente.
[8][10] Assim, aos 16 anos, tornou-se o chefe da família. Ao mesmo tempo, eclodiu uma
guerra civil entre o seu tio,
Caio Mário, e o seu rival, o general
Sula. Ambos os lados realizaram
expurgos, quando puderam, dos partidários do seu adversário, incluindo nas famílias deles. Enquanto Mário e seu aliado,
Lúcio Cornélio Cina, estavam no controle da cidade, César foi nomeado como o novo
alto-sacerdote de
Júpiter, e então casou-se com a filha de Cina,
Cornélia.
[8][9][15][16] Após a vitória final de Sula, as conexões de César com o regime de Mário fizeram dele um alvo do novo governo: foi despojado de sua herança, do dote de sua esposa e do seu sacerdócio, mas se recusou a se divorciar de Cornélia e foi forçado a fugir e se esconder. A ameaça contra ele minguou depois que uma investigação na família de sua mãe mostrou que alguns deles apoiaram Sula e eram
vestais. Sula desistiu de perseguir César, mas afirmou que viu muito de Mário nele.
[8][9]
Apesar do perdão, César não se sentia seguro com Sula ainda no poder. Preferiu ficar afastado de Roma e se juntou ao
exército, servindo sob comando de
Marco Minúcio Termo na
Ásia e
Servílio Isáurico na
Cilícia. César serviu com distinção, ganhando a
coroa cívica por sua participação no
cerco de Mitilene. Numa missão na
Bitínia, para assegurar o apoio da frota de
Nicomedes IV, teve que ficar tanto tempo na sua corte que rumores surgiram de que estava tendo um caso amoroso com o rei, algo que sempre negou. Ao ouvir da morte de Sula em
78 a.C., retornou para Roma. Devido à falta de dinheiro como resultado do confisco de sua herança, alugou uma casa modesta em
Subura, um bairro de classe baixa de Roma. Tornou-se então advogado e ficou conhecido por sua boa oratória, sempre fazendo firmes gestos com os braços e por ter uma voz alta. Também ficou notório por processar ex-governadores acusados de extorsão ou corrupção, logo ficando conhecido pelo povo por causa disso.
Durante uma viagem, no meio do
mar Egeu,
[e] César foi sequestrado por
piratas e feito prisioneiro. Manteve uma atitude de superioridade durante o seu cativeiro: quando os piratas exigiram 20
talentos de prata como resgate, insistiu que exigissem 50. Com o valor pago, foi libertado; em retaliação pelo episódio, César recrutou uma frota, perseguiu, capturou os piratas e os crucificou, como havia prometido durante o cativeiro - uma promessa que seus sequestradores haviam considerado uma piada. Como um sinal de "clemência", aliviou-lhes a dor da crucificação facilitando a sua morte, ao cortar-lhes as gargantas. Pouco tempo depois, foi reconvocado pelo exército, servindo no leste. Naquele momento a reputação de César como um competente comandante militar começou a se formar.
Quando retornou para Roma, foi eleito um
tribuno militar, sinalizando o início de uma carreira política. Foi então eleito
questor por
69 a.C., e durante este mesmo ano fez um
discurso durante o funeral de sua tia Júlia e incluiu palavras de apoio ao marido dela, o general Mário (como Sula estava morto, agora era seguro). Ainda naquele ano, sua esposa, Cornélia, morreu. Após seu enterro, na primavera ou começo do verão de
69 a.C., César foi servir como questor na
Hispânia. Por lá teria encontrado uma estátua do
rei macedônio Alexandre, o Grande, e percebeu, com desgosto, que havia chegado na mesma idade de Alexandre (que fora um grande conquistador) sem ter conseguido muita coisa na vida. Ao retornar para casa, em
67 a.C.,
[29] casou-se com
Pompeia, que era neta de Sula (os dois se divorciaram mais tarde).
[32]
Em
65 a.C., aliou-se a
Crasso, um dos homens mais ricos de Roma, e conseguiu apoio financeiro deste para se eleger
edil no mesmo ano.
[33][34] Em
63 a.C., concorreu ao posto de
pontífice máximo, o alto sacerdote da
religião romana, concorrendo contra dois senadores. Todos os lados se acusaram de subornos e outros crimes. Ainda assim, César venceu, derrotando oponentes mais experientes.
[32] Quando
Cícero, servindo na época como
cônsul, expôs
um esquema por parte de
Lúcio Sérgio Catilina para tomar o controle da República, vários senadores acusaram César de participar do complô, algo que ele negou.
Depois de servir também no cargo de
pretor em
62 a.C., César foi nomeado para governador da
Hispânia Ulterior (sudeste da
Espanha) como
promagistrado, embora alguns acreditem que também detinha poderes proconsulares (de
governador). Ainda estava profundamente endividado e precisava satisfazer os seus credores antes de partir, o que levou-o a procurar
Crasso. Em troca do seu apoio político em oposição a algumas políticas do general
Pompeu, Crasso pagou uma parte da dívida de César e agiu como fiador do resto. Ainda assim, para evitar que se tornasse um cidadão privado normal e assim ficasse aberto a um processo legal devido a suas dívidas, César partiu para governar suas províncias antes que seu pretorado terminasse. Enquanto na Hispânia, subjugou duas tribos locais e foi saudado como
imperator (comandante) por suas tropas, terminando seu mandato como governador local com uma boa reputação.
César teve o título de
imperator em
60 a.C. e
45 a.C.. Na
República Romana, este título honorífico só era conferido a certos líderes militares. Tropas do exército costumavam proclamar seu general como
imperator depois que conquistavam grandes vitórias e homens com esse título poderiam solicitar uma
marcha triunfal ao
senado. Contudo, também queria a posição de cônsul, a mais alta magistratura da República. Se fosse celebrar um triunfo, deveria permanecer como um soldado e ficar fora da cidade até a cerimônia, mas para concorrer às eleições teria que abrir mão do seu comando e entrar na Itália desarmado como um cidadão privado comum; pediu então ao senado para que pudesse concorrer
in absentia, mas o senador
Catão, o Jovem, que não gostava de César, bloqueou a proposta. Como não podia mesmo pedir um triunfo como comandante militar e ser cônsul ao mesmo tempo, César preferiu perseguir o consulado.
Cônsul e campanhas militares
Denário com busto de Júlio César, datado de
44 a.C.; a deusa
Vênus é mostrada no outro verso, segurando
Vitória e um cetro.
Em
60 a.C., César tentou se candidatar para as eleições para cônsul no ano seguinte, junto com outros dois candidatos. A eleição foi sórdida – até
Catão, com sua reputação de incorruptibilidade, teria partido para subornos para tentar favorecer os oponentes de César. Ainda assim venceu, junto com o conservador
Marco Calpúrnio Bíbulo. César já estava em dívida política com
Crasso, mas também se aproximou de
Pompeu. Pompeu e Crasso já não se entendiam bem como antes, então César tentou reconciliá-los. Os três tinham dinheiro e influência política suficiente para controlar a vida pública da nação. Esta aliança informal, que ficou conhecida como
Primeiro Triunvirato ("governo de três"), foi consolidada pelo casamento entre Pompeu e a filha de César,
Júlia.
[48] César também se casou novamente, com
Calpúrnia Pisão, filha do poderoso senador
Lúcio Calpúrnio Pisão Cesonino.
César então propôs uma redistribuição de terras públicas, pela força se necessário, para beneficiar os mais pobres. Pompeu e Crasso apoiaram a proposta, tornando público o triunvirato. Pompeu encheu as ruas de tropas, com o objetivo de intimidar os inimigos dos triúnviros. Bíbulo declarou que os presságios eram desfavoráveis e tentou anular a nova lei, mas foi afastado do senado por homens armados a mando de César e forçado a aposentar-se. Bíbulo não foi o único que sofreu com a repressão. Qualquer um que mostrasse oposição às ideias do Triunvirato (especialmente as de César) era preso.
[48]
Quando César foi eleito para cônsul, a aristocracia tentou limitar seu poder futuro, especialmente para evitar que tivesse comando militar.
[60] Porém, com a ajuda de aliados, César foi nomeado governador da
Gália Cisalpina (norte da Itália) e
Ilírico (sudeste da Europa), com a
Gália Transalpina (sul da
França) sendo adicionada mais tarde, dando-lhe comando de quatro
legiões completas. Seu mandato de governador seria de cinco anos e, com o cargo, teria imunidade processual.
[61] Quando seu consulado terminou, César fugiu para suas províncias para evitar ser processado por irregularidades cometidas em seu mandato.
Conquista da Gália
Movimentos de César na Gália
César estava atolado em dívidas, mas como governador podia ganhar muito dinheiro, especialmente através de extorsão e aventuras militares. Seu objetivo não era só ganhar dinheiro, mas conseguir glória nos campos de batalha; anexar novos territórios a Roma também lhe traria ganhos políticos e o respeito do povo.
[69] Possuía quatro legiões sob seu comando e duas províncias que tinham fronteira com territórios não conquistados. A região mais vulnerável era a
Gália, profundamente dividida e instável e habitada por tribos com vocação guerreira, que no passado já haviam derrotado Roma em combate. O pretexto para a invasão romana veio quando tribos gálicas aliadas a Roma foram derrotadas por rivais, estes apoiado por guerreiros
germânicos, na
batalha de Magetóbriga. César usou o receio de que estas tribos tentassem migrar para regiões próximas à
península Itálica e que tivessem intenções belicosas para justificar uma incursão militar na Gália. César então recrutou mais legiões e derrotou estas tribos em batalha na fronteira do império.
[72]
Em resposta às atividades de César, as tribos do norte da Gália começaram a se armar. Júlio César viu isso como um movimento agressivo e, depois de uma batalha inconclusiva, partiu para derrotar cada uma das tribos gaulesas de forma separada. Enquanto isso, uma das suas legiões conseguiu avançar até o extremo norte da Gália, chegando à margem oposta à
Britânia.
[73][75] Na primavera de
56 a.C., os triúnviros fizeram uma reunião de emergência. A situação em Roma era tensa e a aliança política de que César dependia estava se desfazendo. A
Conferência de Luca renovou o
Primeiro Triunvirato e deu mais cinco anos de mandato para César como governador de suas províncias. Enquanto isso, a conquista do norte da Gália havia sido completada, embora alguns bolsões de resistência permanecessem.
[75]
Em
55 a.C., César repeliu uma invasão de tribos germânicas na Gália. Então
construiu pontes sobre o rio Reno e avançou no território germânico para demonstrar força, mas depois recuou. Mais tarde naquele verão, teve que sufocar uma rebelião na
Bélgica. Acusando os
britões de interferir em sua guerra,
lançou uma invasão da Britânia. Suas informações da região eram ruins, e apesar de ele ter conquistado uma consistente base costeira, não conseguiu avançar dentro do território britânico e decidiu retornar para a Gália para o inverno.
[73] Regressou à Britânia no ano seguinte, melhor preparado e com mais tropas, e conseguiu avançar mais: conquistou territórios e fez alianças, porém retornou quando uma revolta, decorrente da má colheita, eclodiu no coração da Gália.
Enquanto César estava na Britânia, sua filha Júlia, esposa de
Pompeu, morreu no parto do seu primeiro filho. César tentou revitalizar sua aliança com Pompeu ao oferecer sua sobrinha-neta em casamento, mas a proposta foi recusada. Pompeu preferiu se casar com
Cornélia Metela, filha de
Metelo Cipião, um dos maiores adversários de César no senado. Em
53 a.C., Crasso foi morto na
Batalha de Carras durante a mal sucedida
invasão romana do
Império Parta. Sua morte marcou o fim do triunvirato e o falecimento de Júlia foi o ponto final de ruptura entre César e Pompeu. A República agora estava em pé de uma nova guerra civil. Pompeu, agora com apoio completo da
aristocracia conservadora, foi nomeado pelo senado como o único cônsul em Roma.
Em
53 a.C. quase toda a Gália, Bélgica e partes da fronteira com a Germânia estavam sob controle militar romano depois de apenas cinco anos de guerra. Embora, na verdade, os gauleses fossem tão bons guerreiros quanto os romanos, suas divisões internas garantiram a vitória de Júlio César, que soube explorar bem a desunião gaulesa e as habilidades de suas próprias tropas. Ainda assim, os gauleses tentariam uma última vez se livrar do jugo romano.
Vercingetórix, chefe da tribo dos
Arvernos, liderou os gauleses em revolta. A
52 a.C. boa parte das tribos da Gália já estavam unidas em apoio à revolta contra Roma.
[95][96] Vercingetórix provou ser um comandante astuto, derrotando os romanos em alguns confrontos. Porém César trouxe reforços e forçou o recuo do principal exército gaulês. Os romanos empurraram Vercingetórix à cidade de
Alésia, onde habilmente o
cercaram e derrotaram e também repeliram reforços que tentaram furar o cerco. Apesar de o conflito ter prosseguido, na forma de
guerrilha, pelos dois anos seguintes,
[75] a conquista da Gália foi assegurada com a rendição de Vercingetórix e suas forças em Alésia. O historiador
Plutarco estima que o número de gauleses mortos passou de um milhão, além de outro milhão de pessoas terem sido feitas
escravas. Os romanos subjugaram mais de 300 tribos e destruíram pelo menos 800 cidades.
Apesar de César provavelmente ter exagerado os números para fazer sua vitória parecer maior do que realmente foi, a Gália realmente sofreu com a guerra e milhares de pessoas foram mortas. Em
50 a.C., após oito anos de guerras, a resistência gaulesa contra a ocupação romana estava completamente morta. A região permaneceria como parte do Império Romano pelos próximos quinhentos anos. César faria fortuna vendendo milhares de pessoas à escravidão, além de também vender bens e produtos saqueados das cidades da Gália. Mais importante que o dinheiro, sua conquista deu-lhe boa reputação militar, além de respeito e amor por parte da
população em geral. O exército que comandou também passou a idolatrá-lo e ter orgulho de servi-lo (algo que contribuiu para isso, além dos sucessos no campo de batalha, era sua campanha para dar terras e outros benefícios para os seus veteranos).
[99][100]
Guerra Civil
Em
50 a.C., o mandato de Júlio César como governador acabou, terminando assim sua imunidade processual. O senado, liderado por
Pompeu, ordenou que César dispensasse suas legiões e retornasse para
Roma. Sem essa imunidade que desfrutava como magistrado, temia que fosse processado pelos senadores. Pompeu e a
aristocracia romana acusavam-no de insubordinação e traição. Júlio César então afirmou que não tinha opção a não ser lutar pelos seus direitos. A lei romana proibia que qualquer general entrasse na Itália com seu exército. Ainda assim, em janeiro de
49 a.C., César cruzou o
rio Rubicão (a fronteira oficial da
Itália) com apenas
uma legião (a XIII), dando início à
guerra civil. Ao atravessar o Rubicão, segundo
Plutarco e
Suetônio, César teria citado a famosa frase do dramaturgo ateniense
Menandro, "
Alea jacta est" ("o dado está lançado").
Erasmo de Roterdã, contudo, afirma que a tradução do grego mais precisa no
modo imperativo seria "
alea iacta esto" ("
deixe o dado ser lançado").
[103]
Pompeu não tinha como montar uma defesa coesa e decidiu, acompanhado pela maioria dos senadores, fugir para o sul para tentar recrutar mais tropas. Apesar de ter mais soldados que César, que tinha apenas uma legião sob seu comando, Pompeu não queria lutar. César o perseguiu, pretendendo capturá-lo. Pompeu conseguiu fugir, tomando refúgio na Grécia junto com o senado. César não tinha uma frota e, enquanto seus navios eram construídos, partiu até a província da
Hispânia, deixando a Itália sob controle do general
Marco Antônio, seu segundo em comando. Após marchar de Roma até a Hispânia com seu exército em apenas 27 dias, derrotou os partidários de Pompeu por lá. Depois partiu, de navio, até a Ilíria, onde enfrentou Pompeu e quase foi derrotado na
Batalha de Dirráquio, mas conseguiu evitar ser capturado e saiu com boa parte das tropas intactas. César, contudo, não podia ficar rodeando a Grécia por muito tempo, pois ficaria sem suprimentos. Finalmente, a 9 de agosto de
49 a.C., Pompeu e César travaram a importante
Batalha de Farsalos. Mesmo em desvantagem numérica de quase três para um, César derrotou o rival e colocou seu exército em fuga. Esta batalha se provaria decisiva na guerra civil.
Em Roma, César foi nomeado
ditador, com Marco Antônio como seu
mestre da cavalaria (vice-comandante); César presidiu sobre sua própria eleição que lhe deu seu segundo consulado.
[107] Derrotados, Pompeu e o senado decidiram se separar. Pompeu fugiu para o
Egito, com César em seu encalço. Chegando lá, foi presenteado pelas autoridades locais com a cabeça de Pompeu. César ficou furioso e ordenou a prisão (e depois execução) dos responsáveis. Decidiu permanecer no Egito por um tempo, presenciou a guerra civil entre o jovem
Ptolemeu XIII e sua irmã e co-regente
Cleópatra VII. César decidiu apoiar esta última e resistiu ao
cerco de Alexandria antes de derrotar Ptolemeu XIII na
Batalha do Nilo de
47 a.C., instalando Cleópatra como a única governante. César e Cleópatra saíram para comemorar sua vitória com uma procissão triunfal pelo
rio Nilo, acompanhados de 400 navios. Na festa, ele foi introduzido às extravagâncias dos
faraós egípcios.
[110]
César e Cleópatra se tornaram amantes, ficando juntos em Alexandria por mais um ano. Os dois não podiam se casar, pois a lei romana não reconhecia o casamento de um cidadão com uma não romana. Porém, relacionamento com um bárbaro não era considerado adultério. Os dois teriam gerado um filho juntos,
Cesarião, e Cleópatra visitou Roma pelo menos uma vez, residindo na vila de César nas margens do
rio Tibre.
[110] Ao fim de
48 a.C., César foi novamente nomeado ditador, com o mandato de um ano.
[107] Após resolver os problemas no Egito, partiu para o
Oriente Médio, onde conquistou uma vitória fácil contra o rei
Fárnaces II de
Ponto; sua vitória foi tão rápida e tão fácil que teria zombado da vitória difícil anterior de Pompeu sobre estes. Ao vencer mais um inimigo, César teria dito sua famosa frase "
Veni, vidi, vici" ("Vim, vi, venci").
Depois partiu para o
norte da África para derrotar as forças do senado por lá. Conquistou uma vitória decisiva, em
46 a.C., sobre as tropas de
Catão, o Jovem, que acabou cometendo suicídio logo depois. No mesmo ano derrotou outra tropa senatorial, na
batalha de Tapso, em que foi morto Metelo Cipião, um dos líderes da facção anticesarina no senado. César foi então nomeado ditador pelos dez anos seguintes.
[107] Os filhos de Pompeu fugiram para a Hispânia e lá prepararam a última resistência contra César. Finalmente, na
batalha de Munda (março de
45 a.C.), derrotou o último bastião da resistência armada contra ele. Nesse meio tempo, com um senado reduzido, formado basicamente por seus partidários, César foi eleito para um terceiro e quarto mandatos como cônsul (em 46 e
45 a.C. respectivamente).
[107]
Governo
Enquanto ainda estava em uma campanha na Hispânia, o senado concedera diversas honras a César. Ele preferiu não se vingar dos inimigos, preferindo perdoar a maioria deles. Por parte da
população comum não havia uma forte oposição. Grandes jogos e celebrações aconteceram em abril para celebrar sua vitória em Munda. Plutarco escreveu que muitos romanos acreditavam que aquela celebração foi de mal gosto, pois foi uma vitória contra outros romanos, no meio de uma guerra civil. Quando César retornou à Itália, em
45 a.C., protocolou oficialmente seu testamento, nomeando seu sobrinho-neto
Caio Otávio (ou Otaviano, mas que viria a ser conhecido como Augusto César) como seu principal herdeiro, deixando-lhe diversas propriedades e vastas quantidades de dinheiro. César escreveu também que caso Otávio morresse antes dele,
Décimo Júnio Bruto Albino seria o seu próximo herdeiro. No testamento também deixou presentes e dinheiro para os cidadãos de
Roma.
Durante o começo da sua carreira, César testemunhou o quão disfuncional e caótica a República Romana se tornara. A máquina republicana havia quebrado sob o peso do
imperialismo, perda de poder das autoridades centrais na capital, com as províncias se tornando praticamente principados independentes sob controle total dos governadores e ainda com o exército profundamente polarizado e sendo usado para fins políticos. Com o governo central enfraquecido, a corrupção política havia saído do controle e o
status quo era mantido por uma aristocracia corrupta que não via necessidade de mudar um sistema que perpetuava suas riquezas.
[117]
Entre a travessia do
rio Rubicão em
49 a.C. e o seu
assassinato em
44 a.C., César estabeleceu uma nova constituição, que deveria alcançar três objetivos. Primeiro, queria suprimir toda a resistência armada fora nas províncias e assim trazer a ordem de volta ao país. Segundo, queria construir um governo forte em Roma. Terceiro e finalmente, queria unir o império em uma única unidade coesa. Este primeiro objetivo foi conquistado quando César derrotou Pompeu e seus partidários no senado.
[118] As outra duas metas, para consegui-las, assumiu que precisaria de poder absoluto e que este fosse incontestável,
[119] então aumentou sua própria autoridade em detrimento de outras instituições políticas. Por fim, anunciou dezenas de medidas reformistas para reerguer o país, que foram desde a alteração do
calendário até a redistribuição de terras.
[118]
Ditadura
Após derrotar seus inimigos e retornar para Roma, o senado concedeu a César o
triunfo (uma homenagem pública para prestigiar um comandante militar) por suas vitórias sobre a Gália, Egito,
Fárnaces II e
Juba I,
rei númida que apoiara seus opositores em Tapso. Ele decidiu não realizar festividades para celebrar vitórias sobre outros romanos durante a guerra civil. Nem tudo foi como César planejou. Quando
Arsínoe IV, ex rainha do Egito, foi exibida em correntes nas ruas de Roma, o público admirou sua coragem e teve pena dela. Os
jogos triunfais aconteceram, com
caçadas envolvendo 400 leões e lutas de
gladiadores. Uma
batalha naval também foi recriada no
Campo de Marte, que fora inundado para a ocasião. No
Circo Máximo, dois exércitos de cativos, incluindo duas mil pessoas, duzentos cavalos e vinte elefantes, lutaram até a morte. Muitos criticaram César afirmando que suas festividades eram extravagantes. Uma pequena revolta começou. Dois membros desta revolta foram mortos por sacerdotes no Campo de Marte, a mando de César.
[122]
Após as festividades do triunfo, César começou a tentar aprovar sua ambiciosa
agenda política. Ordenou que um
censo fosse feito, que resultou em uma redução da
distribuição de cereais e do desperdício. Aprovou uma
lei suntuária para restringir a compra de certos bens de luxo. Depois, uma nova lei foi aprovada para premiar famílias que tinham muitos filhos, para acelerar o repovoamento da Itália. Baniu as
corporações de ofício profissionais, exceto as mais antigas, e também aprovou uma lei que dava limites de mandatos para governadores de províncias e outra de reestruturação de dívidas, que acabou por eliminar
¼ de todas as dívidas do povo da cidade.
[122] O
Fórum de César, com o
Templo de Vénus Genetrix, foi construído, junto com várias outras obras públicas, que empregaram milhares de cidadãos.
[123] César também aumentou a regulação de compra de cereais subsidiada pelo Estado e reduziu o número de beneficiários, que entraram em um registro especial. De 47 a
44 a.C., fez planos para distribuir terras para aproximadamente 15 000 dos seus veteranos.
Uma das mudanças mais importantes do seu governo, contudo, foi sua reforma no
calendário romano. O calendário era regulado pelas fases da lua, o que era confuso. César adaptou o calendário da maneira como os egípcios faziam, sendo regulado pelo
sol. A extensão do ano passou a ser de 365,25 dias, com a adição de um dia extra em fevereiro a cada quatro anos.
[126] Para sincronizar o calendário novo com as
estações do ano, criou três meses extras, implementando isso em
46 a.C.. Assim, o
calendário juliano começou oficialmente em 1 de janeiro de
45 a.C..
[122] O calendário sofreria poucas mudanças ao decorrer do tempo, tornando-se o
padrão no mundo ocidental.
[126]
Pouco antes de seu assassinato, aprovou uma série de novas reformas. Estabeleceu uma força policial permanente, nomeou funcionários públicos para supervisionar a implementação da
reforma agrária e ordenou a reconstrução das cidades de
Cartago e
Corinto. Também estendeu o direito dos povos latinos por todo o mundo romano, e então aboliu o sistema de taxação e o reverteu para o sistema antigo onde eram as cidades que coletavam os impostos para si próprias, evitando a necessidade de intermediários (reduzindo a corrupção). Seu assassinato impediu a implementação de mais reformas, incluindo a construção de um grande templo de
Marte, um pomposo novo teatro e uma biblioteca maior que a
de Alexandria.
[122] Também queria converter a cidade de
Óstia num grande porto e criar um canal cortando
Istmo de Corinto. Militarmente, pretendia conquistar a
Dácia e também a
Pártia, para vingar a derrota romana em
Carras. Assim iniciou uma mobilização de tropas no leste. O senado o nomeou
censor em caráter vitalício e ainda o nomeou "Pai da Nação", e o mês
quintil foi renomeado
julho em sua honra.
[122]
Ele recebeu outras honras e nomeações oficiais em caráter vitalício. Essa acumulação de cargos foi mais tarde usada como um dos pretextos para o seu assassinato. Seus opositores afirmavam que César estava acumulando poderes de
um rei. De fato, coisas comuns na era dos reis em Roma voltaram, como moedas sendo feitas com seu rosto e grandes e ostentosas estátuas. Ele mandou colocar no senado uma grande cadeira banhada em ouro, enquanto usava um pomposo vestido e iniciou uma forma não oficial de
culto a sua pessoa.
[122]
Reformas políticas
A reforma política que implementou em Roma é complicada. César tinha poderes
ditatoriais e de
tribuno, mas alternava nas funções de
cônsul e
procônsul. Seus poderes no Estado vinham destes magistérios.
[119] Foi nomeado ditador oficialmente pela primeira vez em
49 a.C., possivelmente para presidir as eleições, mas renunciou a este cargo onze dias depois. Em
48 a.C., foi renomeado ditador, só que desta vez por tempo indeterminado e, em
46 a.C., foi acertado um mandato de 10 anos.
[127] Em
48 a.C., ganhou poderes de tribuno em caráter vitalício, o que o tornou uma pessoa sacrossanta e lhe deu poder de
veto sobre o senado. César sofreu com a oposição do Colégio de Tribunos, mas após algumas prisões ninguém se opôs mais.
[128]
Quando César retornou em definitivo para Roma em
47 a.C., as cadeiras do senado estavam muito vazias, então usou seus poderes de censor para nomear novos senadores. Continuou a expandir o senado, que chegou a ter 900 membros.
[129] Todos os novos membros eram na verdade partidários de César, o que roubava o prestígio da aristocracia senatorial e tornou o senado subserviente. Para minimizar a chance de que algum outro
general pudesse desafiá-lo, César instituiu limites de tempo de mandatos para os governadores das províncias e territórios.
[127]
Em
46 a.C., César deu a si mesmo o título de "Prefeito da Moral", um cargo que existia apenas no nome, já que seus poderes eram os mesmos dos
censores.
[128] Assim, poderia exercer seus poderes censoriais sem ter que se submeter às mesmas leis que os outros censores e usou esta autoridade para encher o senado com simpatizantes seus. Também abriu um precedente, que seria seguido por seus sucessores imperiais, de ter o senado lhe dando vários títulos, honras e cargos. Tinha, por exemplo, o título de "Pai da Nação" e "
imperator" (comandante-em-chefe das forças armadas).
[127] Moedas foram cunhadas com a sua imagem e possuía o direito de ser o primeiro a falar nas sessões do senado, um privilégio reservado à autoridade maior.
[127] César também aumentou o número de magistérios eleitos por ano, aumentando o setor público com magistrados experientes e criando mais cargos para dar aos seus partidários.
[129]
César também deu os primeiros passos para tornar a
Itália em província e também tomou medidas para tornar as províncias unidades mais coesas. Isso resolvia alguns dos problemas causados pelas
Guerras Sociais de décadas antes, onde indivíduos fora de
Roma e longe de Itália não eram considerados "romanos", portanto não tinham os direitos que ter essa
cidadania dava. Assim, unificar o império e prezar pela sua unidade, em vez de dividi-lo em grupos com participações desiguais na vida pública, foi um sucesso, mas só seria completado de fato no reinado do seu sucessor,
Augusto.
[127]
Em fevereiro de
44 a.C., um mês antes do seu assassinato, César foi nomeado, em definitivo, como
ditador vitalício. Concentrando vasta autoridade, deu poderes aos seus tenentes e partidários, principalmente devido ao fato de ele se afastar regularmente da Itália a negócios.
[127] Em outubro de
45 a.C., renunciou ao posto de único
cônsul e trabalhou para que os dois eleitos que o sucederiam fossem seus partidários.
[129] Perto do fim da sua vida, César se preparou para uma guerra contra o
Império Parta. Devido a isso, tinha que se ausentar de Roma com frequência. Para garantir que os eleitos nos cargos, especialmente os cônsules, fossem seus simpáticos, determinou que ele mesmo nomearia diretamente todos os magistrados para o ano de
43 a.C.. No ano seguinte, estendeu isso para as eleições consulares e de tribunos. Assim, os magistrados não mais davam a ideia de que eram representantes do povo, mas sim do ditador.
[129]
Assassinato
O crescente acúmulo de poder por parte de César, em detrimento da aristocracia, irritou muitos senadores conservadores. Eles temiam que Júlio César estivesse tentando reerguer a monarquia, com ele mesmo na figura de rei. Um grupo de senadores (os
Liberatores) começou então a conspirar contra César e planejar seu assassinato, afirmando que ele havia se tornado um tirano e que somente sua morte restauraria a velha República Romana.
[131] Nos
idos de março (15 de março no
Calendário romano) de
44 a.C., César compareceu a uma sessão do
senado na
Cúria de Pompeu. Marco Antônio, tendo ouvido falar sobre o complô de um libertador assustado chamado
Servílio Casca, e temendo o pior, foi avisar César. Os conspiradores, contudo, anteciparam isso e enviaram Trebônio para interceptá-lo enquanto ele se aproximava do
Teatro de Pompeu, onde a sessão aconteceria, para pará-lo. Ao ver a agitação no senado (no momento do assassinato), Antônio fugiu.
Segundo
Plutarco, quando César chegou, o senador
Tílio Cimbro lhe apresentou uma petição para revogar o exílio imposto ao seu irmão.
[133] Os outros conspiradores se aproximaram sob o pretexto de oferecer apoio e cercaram César. Segundo Plutarco e
Suetônio, César dispensou o pedido mas Cimbro o agarrou pelo ombro e o puxou pela túnica. César então berrou para Cimbro: "Como assim, isso é violência!" ("
Ista quidem vis est!").
[134] Ao mesmo tempo, Casca pegou sua
adaga e partiu para o pescoço de César. Este, contudo, se virou rapidamente e pegou Casca pelo braço. De acordo com Plutarco, César teria dito, em latim, "Casca, seu vilão, o que você está fazendo?" (em
grego clássico:
ὁ μεν πληγείς, Ῥωμαιστί· 'Μιαρώτατε Κάσκα, τί ποιεῖς) Casca, assustado, gritou em
grego "Ajuda, irmão!" ("
ἀδελφέ, βοήθει", "
adelphe, boethei"). Poucos momentos depois, todos do grupo, incluindo Bruto, atacaram o ditador. César tentou se afastar mas, cego pelo sangue que escorria da cabeça, tropeçou e caiu. Mesmo no chão, no
pórtico, ele continuou a ser esfaqueado. De acordo com
Eutrópio, cerca de 60 homens participaram do assassinato. César teria sido esfaqueado 23 vezes.
O historiador Suetônio afirmou que um médico que examinou o corpo teria dito que apenas um ferimento, o infligido no peito, teria sido letal. Não se sabe quais foram as últimas palavras de César e isso ainda é assunto de debate entre historiadores e acadêmicos até os dias atuais. Suetônio disse que pessoas da época afirmaram que as últimas palavras de César, proferidas em grego, foram "Até você, criança?" ("
καὶ σύ, τέκνον"). Contudo, até Suetônio tem dúvidas e crê que César não disse nada. Plutarco também afirma que César teria pronunciado palavras em
grego. Mas, de fato, a frase
Et tu, Brute? já era popular antes mesmo da peça.
De acordo com Plutarco, após o assassinato, Bruto deu um passo adiante como se fosse falar algo para os colegas senadores. Eles, contudo, fugiram às pressas do prédio. Bruto e seus companheiros próximos foram então pelas ruas gritando pela cidade: "Povo de Roma, nós somos novamente livres!" Contudo, com a história do que havia ocorrido se espalhando rapidamente, a maioria da população resolveu se trancar dentro de casa. O corpo de César permaneceu no chão do senado por mais três horas antes que fosse removido. O cadáver de César foi posteriormente cremado. No local onde a pira funerária estava ergueu-se o
Templo de César alguns anos mais tarde, a leste da praça principal do
Fórum Romano. Apenas o altar do templo está preservado até os dias atuais.
[144][145] Uma estátua de cera foi mais tarde erguida no Fórum, exibindo as 23 feridas.
[69]
Eventos após sua morte
Marco Antônio, o segundo em comando de César por muito tempo. Após sua morte, foi um dos que tentaram se aproveitar do legado político de César e tentou usá-lo, sem sucesso, para conseguir o poder máximo em Roma.
A série de eventos que aconteceram após sua morte pegou os seus assassinos de surpresa. Ao contrário do que os conspiradores acreditavam, a morte de César não ressuscitou a
República Romana e o
estado tomou a forma
imperial menos de duas décadas depois. As
classes média e baixa da sociedade romana, com as quais César era muito popular, ficaram enfurecidas pelo fato de um pequeno grupo de aristocratas ter assassinado o seu amado líder. Marco Antônio, que na verdade vinha se afastando de César, capitalizou a dor da plebe e ameaçou soltá-la sobre os
Optimates, talvez com o intuito de tentar tomar o poder total em Roma para si. Porém, para seu espanto, César havia nomeado um sucessor em testamento, seu sobrinho-neto
Otaviano, dando-lhe o posto de chefe da família (herdeiro do nome de César), e além disso lhe deu acesso a sua gigantesca fortuna.
Durante o funeral de César, as coisas esquentaram. Na enorme pira funerária feita, o povo compareceu em massa, jogando madeira no fogo, móveis e até roupas para alimentar as chamas. O fogo acabou ficando muito alto, danificando o
Fórum e causando outros danos. A multidão então atacou as casas de Bruto e Cássio, que foram obrigados a fugir para a
Macedônia. Os aristocratas acusaram Antônio de jogar o povo contra eles, levando a uma nova ruptura na liderança política romana, o que precipitaria em
nova guerra civil. Contudo, os rumos deste conflito não terminariam bem para nenhum desses dois, com a figura do sobrinho-neto e herdeiro vindo à proeminência. Otaviano, que tinha apenas 18 anos quando César morreu, mostrou-se um político habilidoso, e enquanto Antônio se preparava para enfrentar
Décimo Bruto na primeira fase da guerra civil, ele igualmente se preparava para sua ascensão na vida pública.
[147]
Bruto e Cássio, líderes da facção aristocrática contra César, estavam reunindo um exército na Grécia para recuperar o poder em Roma. Para combatê-los, Antônio precisava de sua própria tropa, além de dinheiro e de legitimidade, algo que pretendia conquistar no legado de César. Com inimigos em comum, Antônio e Otaviano, junto com o comandante
Lépido, se aliaram, confrontaram os assassinos de César e seus simpatizantes no senado e se saíram vitoriosos em batalha. Em 27 de novembro de
43 a.C., foi formalizada a
lex Titia que criou o
Segundo Triunvirato. Então, oficialmente
deificaram César como "Divino Júlio" (
Divus Iulius), em
42 a.C..
Já que a clemência de César para perdoar ex-inimigos acabou custando sua vida, o Segundo Triunvirato trouxe de volta a
proscrição, abandonada no governo de
Sula. Isso levou a uma série de assassinatos políticos para assim poderem pagar por suas legiões e vencer a guerra contra Bruto e Cássio. Em seguida, Otaviano, Antônio e Lépido se tornaram os governantes de Roma, sem qualquer rival. Contudo, o Segundo Triunvirato não ficaria em paz muito tempo. Marco Antônio formou uma aliança com a ex-amante de César, a rainha
Cleópatra, pretendendo usar as fortunas do Egito para dominar Roma. Uma
nova guerra civil eclodiu entre Otaviano e Marco Antônio. Durante este conflito, Otaviano se apoiou no fato de César tê-lo nomeado como seu sucessor e
adotado como filho e usou isso como uma fonte de legitimidade. Otaviano então conquistou o
Egito, forçando Antônio e sua rainha a cometerem suicídio. Então retornou para
Roma e, em
27 a.C., se tornou
César Augusto, o primeiro
imperador romano, dando a si mesmo estatuto de divindade.
Antes de sua morte, Júlio César havia planejado lançar uma invasão militar contra a
Pártia, o
Cáucaso e a
Cítia. Também pretendia marchar novamente contra a
Germânia e a
Europa Oriental. Vários generais lançariam campanhas contra a Germânia em nome de Augusto, porém com a derrota romana na
Batalha da Floresta de Teutoburgo em
9 d.C., não mais se tentaria dominar aquela região. Na Pártia, por sua vez, Augusto preferiu resolver o conflito romano-persa via diplomacia e conseguiu com isso o retorno dos
estandartes de guerra perdidos por Crasso na
batalha de Carras, uma vitória simbólica de grande impulso à moral romana.
Deificação
Júlio César se tornou o primeiro político romano importante a ser
deificado. Foi posteriormente agraciado com o título de "Divino Júlio" ou "Deificado Júlio" (
Divus Iulius ou
Divus Julius) por decreto do
senado romano em 1 de janeiro de
42 a.C. e a aparição de um
cometa durante os
jogos em sua honra foi usada para confirmar sua divindade. Apesar do seu
templo lhe ter sido dedicado apenas após sua morte, pode ter recebido estatuto divino já durante sua vida e logo depois de seu assassinado, Marco Antônio foi nomeado como o seu
flâmine (sacerdote). Tanto Otaviano quando Antônio promoveram o culto ao Divino Júlio. Após a morte de Antônio, Otaviano, como filho adotivo de César, assumiu o título de "Filho do Divino" (
Divi Filius).
Vida pessoal
Aparência e saúde
Retrato de Túsculo, um dos únicos bustos sobreviventes feitos ainda durante a vida de César
O historiador Suetônio descreve Júlio César como "alto em estatura com uma pele clara, membros bem torneados, um rosto cheio e olhos negros penetrantes." (em
latim:
excelsa statura, colore candido, teretibus membris, ore paulo pleniore, nigris vegetisque oculis.) Uma fala de uma peça de
William Shakespeare teria dito que César era surdo de um ouvido. Nenhuma fonte antiga relata isso. Shakespeare pode ter se baseado na passagem metafórica de Plutarco que não se refere a surdez, tendo mais a ver com um hábito de Alexandre da Macedônia. Ao cobrir sua orelha, Alexandre indicava que havia desviado sua atenção da acusação para poder ouvir a defesa.
Com base em Plutarco, acredita-se que César sofria de
epilepsia. Historiadores modernos se dividem neste assunto, com alguns afirmando que sofria de
malária. Muitos especialistas em medicina acreditam que em vez de epilepsia provavelme que César teria pronunciado palavras em
grego. Mas, de fato, a frase
Et tu, Brute? já era popular antes mesmo da peça.
De acordo com Plutarco, após o assassinato, Bruto deu um passo adiante como se fosse falar algo para os colegas senadores. Eles, contudo, fugiram às pressas do prédio. Bruto e seus companheiros próximos foram então pelas ruas gritando pela cidade: "Povo de Roma, nós somos novamente livres!" Contudo, com a história do que havia ocorrido se espalhando rapidamente, a maioria da população resolveu se trancar dentro de casa. O corpo de César permaneceu no chão do senado por mais três horas antes que fosse removido. O cadáver de César foi posteriormente cremado. No local onde a pira funerária estava ergueu-se o
Templo de César alguns anos mais tarde, a leste da praça principal do
Fórum Romano. Apenas o altar do templo está preservado até os dias atuais.
[144][145] Uma estátua de cera foi mais tarde erguida no Fórum, exibindo as 23 feridas.
[69]
Eventos após sua morte
Marco Antônio, o segundo em comando de César por muito tempo. Após sua morte, foi um dos que tentaram se aproveitar do legado político de César e tentou usá-lo, sem sucesso, para conseguir o poder máximo em Roma.
A série de eventos que aconteceram após sua morte pegou os seus assassinos de surpresa. Ao contrário do que os conspiradores acreditavam, a morte de César não ressuscitou a
República Romana e o
estado tomou a forma
imperial menos de duas décadas depois. As
classes média e baixa da sociedade romana, com as quais César era muito popular, ficaram enfurecidas pelo fato de um pequeno grupo de aristocratas ter assassinado o seu amado líder. Marco Antônio, que na verdade vinha se afastando de César, capitalizou a dor da plebe e ameaçou soltá-la sobre os
Optimates, talvez com o intuito de tentar tomar o poder total em Roma para si. Porém, para seu espanto, César havia nomeado um sucessor em testamento, seu sobrinho-neto
Otaviano, dando-lhe o posto de chefe da família (herdeiro do nome de César), e além disso lhe deu acesso a sua gigantesca fortuna.
Durante o funeral de César, as coisas esquentaram. Na enorme pira funerária feita, o povo compareceu em massa, jogando madeira no fogo, móveis e até roupas para alimentar as chamas. O fogo acabou ficando muito alto, danificando o
Fórum e causando outros danos. A multidão então atacou as casas de Bruto e Cássio, que foram obrigados a fugir para a
Macedônia. Os aristocratas acusaram Antônio de jogar o povo contra eles, levando a uma nova ruptura na liderança política romana, o que precipitaria em
nova guerra civil. Contudo, os rumos deste conflito não terminariam bem para nenhum desses dois, com a figura do sobrinho-neto e herdeiro vindo à proeminência. Otaviano, que tinha apenas 18 anos quando César morreu, mostrou-se um político habilidoso, e enquanto Antônio se preparava para enfrentar
Décimo Bruto na primeira fase da guerra civil, ele igualmente se preparava para sua ascensão na vida pública.
[147]
Bruto e Cássio, líderes da facção aristocrática contra César, estavam reunindo um exército na Grécia para recuperar o poder em Roma. Para combatê-los, Antônio precisava de sua própria tropa, além de dinheiro e de legitimidade, algo que pretendia conquistar no legado de César. Com inimigos em comum, Antônio e Otaviano, junto com o comandante
Lépido, se aliaram, confrontaram os assassinos de César e seus simpatizantes no senado e se saíram vitoriosos em batalha. Em 27 de novembro de
43 a.C., foi formalizada a
lex Titia que criou o
Segundo Triunvirato. Então, oficialmente
deificaram César como "Divino Júlio" (
Divus Iulius), em
42 a.C..
Já que a clemência de César para perdoar ex-inimigos acabou custando sua vida, o Segundo Triunvirato trouxe de volta a
proscrição, abandonada no governo de
Sula. Isso levou a uma série de assassinatos políticos para assim poderem pagar por suas legiões e vencer a guerra contra Bruto e Cássio. Em seguida, Otaviano, Antônio e Lépido se tornaram os governantes de Roma, sem qualquer rival. Contudo, o Segundo Triunvirato não ficaria em paz muito tempo. Marco Antônio formou uma aliança com a ex-amante de César, a rainha
Cleópatra, pretendendo usar as fortunas do Egito para dominar Roma. Uma
nova guerra civil eclodiu entre Otaviano e Marco Antônio. Durante este conflito, Otaviano se apoiou no fato de César tê-lo nomeado como seu sucessor e
adotado como filho e usou isso como uma fonte de legitimidade. Otaviano então conquistou o
Egito, forçando Antônio e sua rainha a cometerem suicídio. Então retornou para
Roma e, em
27 a.C., se tornou
César Augusto, o primeiro
imperador romano, dando a si mesmo estatuto de divindade.
Antes de sua morte, Júlio César havia planejado lançar uma invasão militar contra a
Pártia, o
Cáucaso e a
Cítia. Também pretendia marchar novamente contra a
Germânia e a
Europa Oriental. Vários generais lançariam campanhas contra a Germânia em nome de Augusto, porém com a derrota romana na
Batalha da Floresta de Teutoburgo em
9 d.C., não mais se tentaria dominar aquela região. Na Pártia, por sua vez, Augusto preferiu resolver o conflito romano-persa via diplomacia e conseguiu com isso o retorno dos
estandartes de guerra perdidos por Crasso na
batalha de Carras, uma vitória simbólica de grande impulso à moral romana.
Deificação
Júlio César se tornou o primeiro político romano importante a ser
deificado. Foi posteriormente agraciado com o título de "Divino Júlio" ou "Deificado Júlio" (
Divus Iulius ou
Divus Julius) por decreto do
senado romano em 1 de janeiro de
42 a.C. e a aparição de um
cometa durante os
jogos em sua honra foi usada para confirmar sua divindade. Apesar do seu
templo lhe ter sido dedicado apenas após sua morte, pode ter recebido estatuto divino já durante sua vida e logo depois de seu assassinado, Marco Antônio foi nomeado como o seu
flâmine (sacerdote). Tanto Otaviano quando Antônio promoveram o culto ao Divino Júlio. Após a morte de Antônio, Otaviano, como filho adotivo de César, assumiu o título de "Filho do Divino" (
Divi Filius).
Vida pessoal
Aparência e saúde
Retrato de Túsculo, um dos únicos bustos sobreviventes feitos ainda durante a vida de César
O historiador Suetônio descreve Júlio César como "alto em estatura com uma pele clara, membros bem torneados, um rosto cheio e olhos negros penetrantes." (em
latim:
excelsa statura, colore candido, teretibus membris, ore paulo pleniore, nigris vegetisque oculis.) Uma fala de uma peça de
William Shakespeare teria dito que César era surdo de um ouvido. Nenhuma fonte antiga relata isso. Shakespeare pode ter se baseado na passagem metafórica de Plutarco que não se refere a surdez, tendo mais a ver com um hábito de Alexandre da Macedônia. Ao cobrir sua orelha, Alexandre indicava que havia desviado sua atenção da acusação para poder ouvir a defesa.
Com base em Plutarco, acredita-se que César sofria de
epilepsia. Historiadores modernos se dividem neste assunto, com alguns afirmando que sofria de
malária. Muitos especialistas em medicina acreditam que em vez de epilepsia provavelme teria apenas
enxaquecas muito fortes. Outros afirmavam que os surtos de epilepsia eram causados por uma
infecção parasitária no cérebro por
cestoda.
César teve quatro episódios documentados de ataques epiléticos. Pode ter tido uma '
crise de ausência' na sua juventude. Os primeiros casos de epilepsia foram relatados pelo historiador Suetônio, que nasceu depois da morte de César. Alguns historiadores afirmam que César poderia ter na verdade
hipoglicemia, que também pode causar ataques epiléticos.
[178] Em 2003, o psiquiatra Harbour F. Hodder publicou o que denominou como a teoria do "Complexo de César", argumentando que o general romano sofria de
epilepsia do lobo temporal e os sintomas debilitantes da condição eram um dos fatores de César ignorar sua segurança pessoal nos dias que antecederam sua morte.
Nome e família
Usando o
alfabeto latino do período, que não tinha as letras
J e
U, o nome de César teria sido escrito como
GAIVS IVLIVS CAESAR; a forma
CAIVS também é atestada, usando a antiga forma de representação romana
G por
C. A abreviação padrão é
C. IVLIVS CÆSAR, refletindo a abreviação antiga (a forma da letra
Æ é uma
ligadura das letras
A e
E, e é normalmente usada em
epigrafias em latim para salvar espaço).
[180] O
cognome César se tornou
um título; foi promulgado pela
Bíblia, que contém a famosa passagem "
A César o que é de César...". O título em alemão é chamado
Cáiser e nas
línguas eslavas é
Czar. A última pessoa a ter o título de Czar oficialmente foi
Simeão II da Bulgária, cujo reinado terminou em 1946.
[182]
Em
latim vulgar, a
consoante oclusiva /k/ antes da
vogal anterior começou, devido a palatalização, a ser pronunciada como uma
consoante africada, donde as renderizações
[ˈtʃeːsar] em
italiano e
[ˈtseːsar] na pronúncia regional do latim em
alemão. Com a evolução das
línguas românicas, a africada [ts] se tornou
fricativa [s] (portanto,
[ˈseːsar]) em muitas pronúncias regionais, incluindo na francesa, de onde a pronúncia em inglês é derivada. O /k/ original é preservado na
mitologia nórdica, onde é manifestado como o rei legendário
Kjárr.
[183] Em
português o nome é pronunciado
Sé-zár.
[180]
Árvore genealógica
[Expandir]
Árvore genealógica da dinastia júlio-claudiana
|
|
Legenda |
| descende |
| adoção |
| casamento | 1, 2 | ordem das esposas |
MAIÚSCULO | imperadores (ou ditador perpétuo, no caso de Júlio César) |
|
Parentes
- Pais
- Irmãs
- Esposas
- Filhos
Júlio César
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Caio Júlio César[a] (em
latim:
Caius ou Gaius Iulius Caesar ou
IMP•C•IVLIVS•CÆSAR•DIVVS[1];
13 de julho de
100 a.C.[b] –
15 de março de
44 a.C.[c]) foi um
patrício, líder
militar e
político romano. Desempenhou um papel crítico na transformação da
República Romana no
Império Romano. Muito da historiografia das campanhas militares de César foi escrita por ele próprio ou por fontes contemporâneas dele, a maioria, cartas e discursos de Cícero e manuscritos de
Salústio. Sua biografia foi posteriormente melhor escrita pelos historiadores
Suetônio e
Plutarco. César é considerado por muitos acadêmicos como um dos maiores comandantes militares da história.
Nascido em uma família patrícia de pequena influência, César foi galgando seu lugar na vida pública romana. Em
60 a.C., ele e os políticos
Crasso e
Pompeu formaram uma aliança (o
Primeiro Triunvirato) que acabou dominando a
política romana por anos. Suas tentativas de manter-se no poder através de táticas
populistas enfrentavam resistência das
classes aristocráticas conservadoras do
senado romano, liderados por homens como
Catão e
Cícero. César conquistou boa reputação militar e dinheiro durante as
Guerras Gálicas (58–50 a.C.), expandindo os domínios romanos para o norte até o
Canal da Mancha, anexando a Gália (atual
França), e no leste até o
Reno (dentro da atual
Alemanha). Ele também se tornou o primeiro general romano a lançar
uma incursão militar na
Britânia.
Suas conquistas lhe deram enorme poderio militar e respeito, que acabou ameaçando a posição do seu companheiro político, e agora rival, Pompeu Magno. Este último havia mudado de lado, após a
morte de Crasso em
53 a.C., e agora apoiava a ala conservadora do senado. Com a guerra na
Gália encerrada, os senadores em Roma exigiram que César dispensasse seu exército e retornasse à capital. Recusou-se a obedecer e em
49 a.C. cruzou o
rio Rubicão com suas
legiões, entrando armado na
Itália (em violação da lei romana que impedia um general de marchar em Roma). Isso precipitou uma violenta
guerra civil, que terminou com uma vitória de César, com ele assumindo poder total na República.
Em
49 a.C., César assumiu o comando em Roma como um
ditador absoluto. Ele iniciou então uma série de reformas sociais e políticas, incluindo a criação do
calendário juliano. Continuou a centralizar o poder e a burocracia da República pelos anos seguintes, dando a si mesmo grande autoridade. Porém a ferida da guerra civil ainda estava aberta e a oposição política em Roma começou a conspirar para derrubá-lo do poder. As conspirações culminaram nos
Idos de Março em
44 a.C. com o
assassinato de César por um grupo de senadores aristocratas liderados por
Marco Júnio Bruto. Sua morte precipitaria uma
nova guerra civil pelos espólios do poder e assim o
governo constitucional republicano nunca foi totalmente restaurado. O seu sobrinho-neto, Caio Otaviano, foi feito seu herdeiro em testamento. Em
27 a.C., o jovem passaria para a história como
Augusto, o primeiro
imperador romano, adotando o título de
César e reivindicando para si o seu legado político.
Infância e carreira inicial
Denário de Júlio César com imagem de elefante.
Júlio César nasceu em uma família
patrícia, a
gente Júlia, que afirmava ser descendente de
Ascânio, filho do legendário
troiano Eneias, que por sua vez era, segundo a mitologia romana, filho da deusa
Vênus. O seu
cognome "César" se originou, de acordo com
Plínio, o Velho, com um ancestral seu nascido de
cesariana (palavra do latim que quer dizer "cortar",
caedere,
caes).
[d] A
História Augusta sugere três razões para o seu nome: a primeira é que César nasceu com muito cabelo (em latim
caesaries); que tinha olhos cinza bem claro (em
latim:
oculis caesiis); ou que matou um elefante (
caesai) em batalha. O próprio César mandou fabricar moedas com retrato de elefantes, sugerindo que favorecia esta interpretação do seu nome.
[6]
Apesar de pertencer a uma família tradicional da aristocracia romana, os Júlios Césares (
Julii Caesares) não eram muito influentes politicamente em Roma, apesar de que, no século anterior, membros desta família conseguiram altos cargos na
República. O pai de César, também chamado
Caio Júlio César, governou a província da
Ásia,
[8][9][10][11] e sua tia
Júlia era casada com o general
Caio Mário, uma das figuras políticas mais importantes em Roma naquela época. Sua mãe,
Aurélia Cota, era membro influente na família. Pouco é sabido sobre a infância de César.
[8][9]
Em
85 a.C., o pai de César morreu subitamente.
[8][10] Assim, aos 16 anos, tornou-se o chefe da família. Ao mesmo tempo, eclodiu uma
guerra civil entre o seu tio,
Caio Mário, e o seu rival, o general
Sula. Ambos os lados realizaram
expurgos, quando puderam, dos partidários do seu adversário, incluindo nas famílias deles. Enquanto Mário e seu aliado,
Lúcio Cornélio Cina, estavam no controle da cidade, César foi nomeado como o novo
alto-sacerdote de
Júpiter, e então casou-se com a filha de Cina,
Cornélia.
[8][9][15][16] Após a vitória final de Sula, as conexões de César com o regime de Mário fizeram dele um alvo do novo governo: foi despojado de sua herança, do dote de sua esposa e do seu sacerdócio, mas se recusou a se divorciar de Cornélia e foi forçado a fugir e se esconder. A ameaça contra ele minguou depois que uma investigação na família de sua mãe mostrou que alguns deles apoiaram Sula e eram
vestais. Sula desistiu de perseguir César, mas afirmou que viu muito de Mário nele.
[8][9]
Apesar do perdão, César não se sentia seguro com Sula ainda no poder. Preferiu ficar afastado de Roma e se juntou ao
exército, servindo sob comando de
Marco Minúcio Termo na
Ásia e
Servílio Isáurico na
Cilícia. César serviu com distinção, ganhando a
coroa cívica por sua participação no
cerco de Mitilene. Numa missão na
Bitínia, para assegurar o apoio da frota de
Nicomedes IV, teve que ficar tanto tempo na sua corte que rumores surgiram de que estava tendo um caso amoroso com o rei, algo que sempre negou. Ao ouvir da morte de Sula em
78 a.C., retornou para Roma. Devido à falta de dinheiro como resultado do confisco de sua herança, alugou uma casa modesta em
Subura, um bairro de classe baixa de Roma. Tornou-se então advogado e ficou conhecido por sua boa oratória, sempre fazendo firmes gestos com os braços e por ter uma voz alta. Também ficou notório por processar ex-governadores acusados de extorsão ou corrupção, logo ficando conhecido pelo povo por causa disso.
Durante uma viagem, no meio do
mar Egeu,
[e] César foi sequestrado por
piratas e feito prisioneiro. Manteve uma atitude de superioridade durante o seu cativeiro: quando os piratas exigiram 20
talentos de prata como resgate, insistiu que exigissem 50. Com o valor pago, foi libertado; em retaliação pelo episódio, César recrutou uma frota, perseguiu, capturou os piratas e os crucificou, como havia prometido durante o cativeiro - uma promessa que seus sequestradores haviam considerado uma piada. Como um sinal de "clemência", aliviou-lhes a dor da crucificação facilitando a sua morte, ao cortar-lhes as gargantas. Pouco tempo depois, foi reconvocado pelo exército, servindo no leste. Naquele momento a reputação de César como um competente comandante militar começou a se formar.
Quando retornou para Roma, foi eleito um
tribuno militar, sinalizando o início de uma carreira política. Foi então eleito
questor por
69 a.C., e durante este mesmo ano fez um
discurso durante o funeral de sua tia Júlia e incluiu palavras de apoio ao marido dela, o general Mário (como Sula estava morto, agora era seguro). Ainda naquele ano, sua esposa, Cornélia, morreu. Após seu enterro, na primavera ou começo do verão de
69 a.C., César foi servir como questor na
Hispânia. Por lá teria encontrado uma estátua do
rei macedônio Alexandre, o Grande, e percebeu, com desgosto, que havia chegado na mesma idade de Alexandre (que fora um grande conquistador) sem ter conseguido muita coisa na vida. Ao retornar para casa, em
67 a.C.,
[29] casou-se com
Pompeia, que era neta de Sula (os dois se divorciaram mais tarde).
[32]
Em
65 a.C., aliou-se a
Crasso, um dos homens mais ricos de Roma, e conseguiu apoio financeiro deste para se eleger
edil no mesmo ano.
[33][34] Em
63 a.C., concorreu ao posto de
pontífice máximo, o alto sacerdote da
religião romana, concorrendo contra dois senadores. Todos os lados se acusaram de subornos e outros crimes. Ainda assim, César venceu, derrotando oponentes mais experientes.
[32] Quando
Cícero, servindo na época como
cônsul, expôs
um esquema por parte de
Lúcio Sérgio Catilina para tomar o controle da República, vários senadores acusaram César de participar do complô, algo que ele negou.
Depois de servir também no cargo de
pretor em
62 a.C., César foi nomeado para governador da
Hispânia Ulterior (sudeste da
Espanha) como
promagistrado, embora alguns acreditem que também detinha poderes proconsulares (de
governador). Ainda estava profundamente endividado e precisava satisfazer os seus credores antes de partir, o que levou-o a procurar
Crasso. Em troca do seu apoio político em oposição a algumas políticas do general
Pompeu, Crasso pagou uma parte da dívida de César e agiu como fiador do resto. Ainda assim, para evitar que se tornasse um cidadão privado normal e assim ficasse aberto a um processo legal devido a suas dívidas, César partiu para governar suas províncias antes que seu pretorado terminasse. Enquanto na Hispânia, subjugou duas tribos locais e foi saudado como
imperator (comandante) por suas tropas, terminando seu mandato como governador local com uma boa reputação.
César teve o título de
imperator em
60 a.C. e
45 a.C.. Na
República Romana, este título honorífico só era conferido a certos líderes militares. Tropas do exército costumavam proclamar seu general como
imperator depois que conquistavam grandes vitórias e homens com esse título poderiam solicitar uma
marcha triunfal ao
senado. Contudo, também queria a posição de cônsul, a mais alta magistratura da República. Se fosse celebrar um triunfo, deveria permanecer como um soldado e ficar fora da cidade até a cerimônia, mas para concorrer às eleições teria que abrir mão do seu comando e entrar na Itália desarmado como um cidadão privado comum; pediu então ao senado para que pudesse concorrer
in absentia, mas o senador
Catão, o Jovem, que não gostava de César, bloqueou a proposta. Como não podia mesmo pedir um triunfo como comandante militar e ser cônsul ao mesmo tempo, César preferiu perseguir o consulado.
Cônsul e campanhas militares
Denário com busto de Júlio César, datado de
44 a.C.; a deusa
Vênus é mostrada no outro verso, segurando
Vitória e um cetro.
Em
60 a.C., César tentou se candidatar para as eleições para cônsul no ano seguinte, junto com outros dois candidatos. A eleição foi sórdida – até
Catão, com sua reputação de incorruptibilidade, teria partido para subornos para tentar favorecer os oponentes de César. Ainda assim venceu, junto com o conservador
Marco Calpúrnio Bíbulo. César já estava em dívida política com
Crasso, mas também se aproximou de
Pompeu. Pompeu e Crasso já não se entendiam bem como antes, então César tentou reconciliá-los. Os três tinham dinheiro e influência política suficiente para controlar a vida pública da nação. Esta aliança informal, que ficou conhecida como
Primeiro Triunvirato ("governo de três"), foi consolidada pelo casamento entre Pompeu e a filha de César,
Júlia.
[48] César também se casou novamente, com
Calpúrnia Pisão, filha do poderoso senador
Lúcio Calpúrnio Pisão Cesonino.
César então propôs uma redistribuição de terras públicas, pela força se necessário, para beneficiar os mais pobres. Pompeu e Crasso apoiaram a proposta, tornando público o triunvirato. Pompeu encheu as ruas de tropas, com o objetivo de intimidar os inimigos dos triúnviros. Bíbulo declarou que os presságios eram desfavoráveis e tentou anular a nova lei, mas foi afastado do senado por homens armados a mando de César e forçado a aposentar-se. Bíbulo não foi o único que sofreu com a repressão. Qualquer um que mostrasse oposição às ideias do Triunvirato (especialmente as de César) era preso.
[48]
Quando César foi eleito para cônsul, a aristocracia tentou limitar seu poder futuro, especialmente para evitar que tivesse comando militar.
[60] Porém, com a ajuda de aliados, César foi nomeado governador da
Gália Cisalpina (norte da Itália) e
Ilírico (sudeste da Europa), com a
Gália Transalpina (sul da
França) sendo adicionada mais tarde, dando-lhe comando de quatro
legiões completas. Seu mandato de governador seria de cinco anos e, com o cargo, teria imunidade processual.
[61] Quando seu consulado terminou, César fugiu para suas províncias para evitar ser processado por irregularidades cometidas em seu mandato.
Conquista da Gália
Movimentos de César na Gália
César estava atolado em dívidas, mas como governador podia ganhar muito dinheiro, especialmente através de extorsão e aventuras militares. Seu objetivo não era só ganhar dinheiro, mas conseguir glória nos campos de batalha; anexar novos territórios a Roma também lhe traria ganhos políticos e o respeito do povo.
[69] Possuía quatro legiões sob seu comando e duas províncias que tinham fronteira com territórios não conquistados. A região mais vulnerável era a
Gália, profundamente dividida e instável e habitada por tribos com vocação guerreira, que no passado já haviam derrotado Roma em combate. O pretexto para a invasão romana veio quando tribos gálicas aliadas a Roma foram derrotadas por rivais, estes apoiado por guerreiros
germânicos, na
batalha de Magetóbriga. César usou o receio de que estas tribos tentassem migrar para regiões próximas à
península Itálica e que tivessem intenções belicosas para justificar uma incursão militar na Gália. César então recrutou mais legiões e derrotou estas tribos em batalha na fronteira do império.
[72]
Em resposta às atividades de César, as tribos do norte da Gália começaram a se armar. Júlio César viu isso como um movimento agressivo e, depois de uma batalha inconclusiva, partiu para derrotar cada uma das tribos gaulesas de forma separada. Enquanto isso, uma das suas legiões conseguiu avançar até o extremo norte da Gália, chegando à margem oposta à
Britânia.
[73][75] Na primavera de
56 a.C., os triúnviros fizeram uma reunião de emergência. A situação em Roma era tensa e a aliança política de que César dependia estava se desfazendo. A
Conferência de Luca renovou o
Primeiro Triunvirato e deu mais cinco anos de mandato para César como governador de suas províncias. Enquanto isso, a conquista do norte da Gália havia sido completada, embora alguns bolsões de resistência permanecessem.
[75]
Em
55 a.C., César repeliu uma invasão de tribos germânicas na Gália. Então
construiu pontes sobre o rio Reno e avançou no território germânico para demonstrar força, mas depois recuou. Mais tarde naquele verão, teve que sufocar uma rebelião na
Bélgica. Acusando os
britões de interferir em sua guerra,
lançou uma invasão da Britânia. Suas informações da região eram ruins, e apesar de ele ter conquistado uma consistente base costeira, não conseguiu avançar dentro do território britânico e decidiu retornar para a Gália para o inverno.
[73] Regressou à Britânia no ano seguinte, melhor preparado e com mais tropas, e conseguiu avançar mais: conquistou territórios e fez alianças, porém retornou quando uma revolta, decorrente da má colheita, eclodiu no coração da Gália.
Enquanto César estava na Britânia, sua filha Júlia, esposa de
Pompeu, morreu no parto do seu primeiro filho. César tentou revitalizar sua aliança com Pompeu ao oferecer sua sobrinha-neta em casamento, mas a proposta foi recusada. Pompeu preferiu se casar com
Cornélia Metela, filha de
Metelo Cipião, um dos maiores adversários de César no senado. Em
53 a.C., Crasso foi morto na
Batalha de Carras durante a mal sucedida
invasão romana do
Império Parta. Sua morte marcou o fim do triunvirato e o falecimento de Júlia foi o ponto final de ruptura entre César e Pompeu. A República agora estava em pé de uma nova guerra civil. Pompeu, agora com apoio completo da
aristocracia conservadora, foi nomeado pelo senado como o único cônsul em Roma.
Em
53 a.C. quase toda a Gália, Bélgica e partes da fronteira com a Germânia estavam sob controle militar romano depois de apenas cinco anos de guerra. Embora, na verdade, os gauleses fossem tão bons guerreiros quanto os romanos, suas divisões internas garantiram a vitória de Júlio César, que soube explorar bem a desunião gaulesa e as habilidades de suas próprias tropas. Ainda assim, os gauleses tentariam uma última vez se livrar do jugo romano.
Vercingetórix, chefe da tribo dos
Arvernos, liderou os gauleses em revolta. A
52 a.C. boa parte das tribos da Gália já estavam unidas em apoio à revolta contra Roma.
[95][96] Vercingetórix provou ser um comandante astuto, derrotando os romanos em alguns confrontos. Porém César trouxe reforços e forçou o recuo do principal exército gaulês. Os romanos empurraram Vercingetórix à cidade de
Alésia, onde habilmente o
cercaram e derrotaram e também repeliram reforços que tentaram furar o cerco. Apesar de o conflito ter prosseguido, na forma de
guerrilha, pelos dois anos seguintes,
[75] a conquista da Gália foi assegurada com a rendição de Vercingetórix e suas forças em Alésia. O historiador
Plutarco estima que o número de gauleses mortos passou de um milhão, além de outro milhão de pessoas terem sido feitas
escravas. Os romanos subjugaram mais de 300 tribos e destruíram pelo menos 800 cidades.
Apesar de César provavelmente ter exagerado os números para fazer sua vitória parecer maior do que realmente foi, a Gália realmente sofreu com a guerra e milhares de pessoas foram mortas. Em
50 a.C., após oito anos de guerras, a resistência gaulesa contra a ocupação romana estava completamente morta. A região permaneceria como parte do Império Romano pelos próximos quinhentos anos. César faria fortuna vendendo milhares de pessoas à escravidão, além de também vender bens e produtos saqueados das cidades da Gália. Mais importante que o dinheiro, sua conquista deu-lhe boa reputação militar, além de respeito e amor por parte da
população em geral. O exército que comandou também passou a idolatrá-lo e ter orgulho de servi-lo (algo que contribuiu para isso, além dos sucessos no campo de batalha, era sua campanha para dar terras e outros benefícios para os seus veteranos).
[99][100]
Guerra Civil
Em
50 a.C., o mandato de Júlio César como governador acabou, terminando assim sua imunidade processual. O senado, liderado por
Pompeu, ordenou que César dispensasse suas legiões e retornasse para
Roma. Sem essa imunidade que desfrutava como magistrado, temia que fosse processado pelos senadores. Pompeu e a
aristocracia romana acusavam-no de insubordinação e traição. Júlio César então afirmou que não tinha opção a não ser lutar pelos seus direitos. A lei romana proibia que qualquer general entrasse na Itália com seu exército. Ainda assim, em janeiro de
49 a.C., César cruzou o
rio Rubicão (a fronteira oficial da
Itália) com apenas
uma legião (a XIII), dando início à
guerra civil. Ao atravessar o Rubicão, segundo
Plutarco e
Suetônio, César teria citado a famosa frase do dramaturgo ateniense
Menandro, "
Alea jacta est" ("o dado está lançado").
Erasmo de Roterdã, contudo, afirma que a tradução do grego mais precisa no
modo imperativo seria "
alea iacta esto" ("
deixe o dado ser lançado").
[103]
Pompeu não tinha como montar uma defesa coesa e decidiu, acompanhado pela maioria dos senadores, fugir para o sul para tentar recrutar mais tropas. Apesar de ter mais soldados que César, que tinha apenas uma legião sob seu comando, Pompeu não queria lutar. César o perseguiu, pretendendo capturá-lo. Pompeu conseguiu fugir, tomando refúgio na Grécia junto com o senado. César não tinha uma frota e, enquanto seus navios eram construídos, partiu até a província da
Hispânia, deixando a Itália sob controle do general
Marco Antônio, seu segundo em comando. Após marchar de Roma até a Hispânia com seu exército em apenas 27 dias, derrotou os partidários de Pompeu por lá. Depois partiu, de navio, até a Ilíria, onde enfrentou Pompeu e quase foi derrotado na
Batalha de Dirráquio, mas conseguiu evitar ser capturado e saiu com boa parte das tropas intactas. César, contudo, não podia ficar rodeando a Grécia por muito tempo, pois ficaria sem suprimentos. Finalmente, a 9 de agosto de
49 a.C., Pompeu e César travaram a importante
Batalha de Farsalos. Mesmo em desvantagem numérica de quase três para um, César derrotou o rival e colocou seu exército em fuga. Esta batalha se provaria decisiva na guerra civil.
Em Roma, César foi nomeado
ditador, com Marco Antônio como seu
mestre da cavalaria (vice-comandante); César presidiu sobre sua própria eleição que lhe deu seu segundo consulado.
[107] Derrotados, Pompeu e o senado decidiram se separar. Pompeu fugiu para o
Egito, com César em seu encalço. Chegando lá, foi presenteado pelas autoridades locais com a cabeça de Pompeu. César ficou furioso e ordenou a prisão (e depois execução) dos responsáveis. Decidiu permanecer no Egito por um tempo, presenciou a guerra civil entre o jovem
Ptolemeu XIII e sua irmã e co-regente
Cleópatra VII. César decidiu apoiar esta última e resistiu ao
cerco de Alexandria antes de derrotar Ptolemeu XIII na
Batalha do Nilo de
47 a.C., instalando Cleópatra como a única governante. César e Cleópatra saíram para comemorar sua vitória com uma procissão triunfal pelo
rio Nilo, acompanhados de 400 navios. Na festa, ele foi introduzido às extravagâncias dos
faraós egípcios.
[110]
César e Cleópatra se tornaram amantes, ficando juntos em Alexandria por mais um ano. Os dois não podiam se casar, pois a lei romana não reconhecia o casamento de um cidadão com uma não romana. Porém, relacionamento com um bárbaro não era considerado adultério. Os dois teriam gerado um filho juntos,
Cesarião, e Cleópatra visitou Roma pelo menos uma vez, residindo na vila de César nas margens do
rio Tibre.
[110] Ao fim de
48 a.C., César foi novamente nomeado ditador, com o mandato de um ano.
[107] Após resolver os problemas no Egito, partiu para o
Oriente Médio, onde conquistou uma vitória fácil contra o rei
Fárnaces II de
Ponto; sua vitória foi tão rápida e tão fácil que teria zombado da vitória difícil anterior de Pompeu sobre estes. Ao vencer mais um inimigo, César teria dito sua famosa frase "
Veni, vidi, vici" ("Vim, vi, venci").
Depois partiu para o
norte da África para derrotar as forças do senado por lá. Conquistou uma vitória decisiva, em
46 a.C., sobre as tropas de
Catão, o Jovem, que acabou cometendo suicídio logo depois. No mesmo ano derrotou outra tropa senatorial, na
batalha de Tapso, em que foi morto Metelo Cipião, um dos líderes da facção anticesarina no senado. César foi então nomeado ditador pelos dez anos seguintes.
[107] Os filhos de Pompeu fugiram para a Hispânia e lá prepararam a última resistência contra César. Finalmente, na
batalha de Munda (março de
45 a.C.), derrotou o último bastião da resistência armada contra ele. Nesse meio tempo, com um senado reduzido, formado basicamente por seus partidários, César foi eleito para um terceiro e quarto mandatos como cônsul (em 46 e
45 a.C. respectivamente).
[107]
Governo
Enquanto ainda estava em uma campanha na Hispânia, o senado concedera diversas honras a César. Ele preferiu não se vingar dos inimigos, preferindo perdoar a maioria deles. Por parte da
população comum não havia uma forte oposição. Grandes jogos e celebrações aconteceram em abril para celebrar sua vitória em Munda. Plutarco escreveu que muitos romanos acreditavam que aquela celebração foi de mal gosto, pois foi uma vitória contra outros romanos, no meio de uma guerra civil. Quando César retornou à Itália, em
45 a.C., protocolou oficialmente seu testamento, nomeando seu sobrinho-neto
Caio Otávio (ou Otaviano, mas que viria a ser conhecido como Augusto César) como seu principal herdeiro, deixando-lhe diversas propriedades e vastas quantidades de dinheiro. César escreveu também que caso Otávio morresse antes dele,
Décimo Júnio Bruto Albino seria o seu próximo herdeiro. No testamento também deixou presentes e dinheiro para os cidadãos de
Roma.
Durante o começo da sua carreira, César testemunhou o quão disfuncional e caótica a República Romana se tornara. A máquina republicana havia quebrado sob o peso do
imperialismo, perda de poder das autoridades centrais na capital, com as províncias se tornando praticamente principados independentes sob controle total dos governadores e ainda com o exército profundamente polarizado e sendo usado para fins políticos. Com o governo central enfraquecido, a corrupção política havia saído do controle e o
status quo era mantido por uma aristocracia corrupta que não via necessidade de mudar um sistema que perpetuava suas riquezas.
[117]
Entre a travessia do
rio Rubicão em
49 a.C. e o seu
assassinato em
44 a.C., César estabeleceu uma nova constituição, que deveria alcançar três objetivos. Primeiro, queria suprimir toda a resistência armada fora nas províncias e assim trazer a ordem de volta ao país. Segundo, queria construir um governo forte em Roma. Terceiro e finalmente, queria unir o império em uma única unidade coesa. Este primeiro objetivo foi conquistado quando César derrotou Pompeu e seus partidários no senado.
[118] As outra duas metas, para consegui-las, assumiu que precisaria de poder absoluto e que este fosse incontestável,
[119] então aumentou sua própria autoridade em detrimento de outras instituições políticas. Por fim, anunciou dezenas de medidas reformistas para reerguer o país, que foram desde a alteração do
calendário até a redistribuição de terras.
[118]
Ditadura
Após derrotar seus inimigos e retornar para Roma, o senado concedeu a César o
triunfo (uma homenagem pública para prestigiar um comandante militar) por suas vitórias sobre a Gália, Egito,
Fárnaces II e
Juba I,
rei númida que apoiara seus opositores em Tapso. Ele decidiu não realizar festividades para celebrar vitórias sobre outros romanos durante a guerra civil. Nem tudo foi como César planejou. Quando
Arsínoe IV, ex rainha do Egito, foi exibida em correntes nas ruas de Roma, o público admirou sua coragem e teve pena dela. Os
jogos triunfais aconteceram, com
caçadas envolvendo 400 leões e lutas de
gladiadores. Uma
batalha naval também foi recriada no
Campo de Marte, que fora inundado para a ocasião. No
Circo Máximo, dois exércitos de cativos, incluindo duas mil pessoas, duzentos cavalos e vinte elefantes, lutaram até a morte. Muitos criticaram César afirmando que suas festividades eram extravagantes. Uma pequena revolta começou. Dois membros desta revolta foram mortos por sacerdotes no Campo de Marte, a mando de César.
[122]
Após as festividades do triunfo, César começou a tentar aprovar sua ambiciosa
agenda política. Ordenou que um
censo fosse feito, que resultou em uma redução da
distribuição de cereais e do desperdício. Aprovou uma
lei suntuária para restringir a compra de certos bens de luxo. Depois, uma nova lei foi aprovada para premiar famílias que tinham muitos filhos, para acelerar o repovoamento da Itália. Baniu as
corporações de ofício profissionais, exceto as mais antigas, e também aprovou uma lei que dava limites de mandatos para governadores de províncias e outra de reestruturação de dívidas, que acabou por eliminar
¼ de todas as dívidas do povo da cidade.
[122] O
Fórum de César, com o
Templo de Vénus Genetrix, foi construído, junto com várias outras obras públicas, que empregaram milhares de cidadãos.
[123] César também aumentou a regulação de compra de cereais subsidiada pelo Estado e reduziu o número de beneficiários, que entraram em um registro especial. De 47 a
44 a.C., fez planos para distribuir terras para aproximadamente 15 000 dos seus veteranos.
Uma das mudanças mais importantes do seu governo, contudo, foi sua reforma no
calendário romano. O calendário era regulado pelas fases da lua, o que era confuso. César adaptou o calendário da maneira como os egípcios faziam, sendo regulado pelo
sol. A extensão do ano passou a ser de 365,25 dias, com a adição de um dia extra em fevereiro a cada quatro anos.
[126] Para sincronizar o calendário novo com as
estações do ano, criou três meses extras, implementando isso em
46 a.C.. Assim, o
calendário juliano começou oficialmente em 1 de janeiro de
45 a.C..
[122] O calendário sofreria poucas mudanças ao decorrer do tempo, tornando-se o
padrão no mundo ocidental.
[126]
Pouco antes de seu assassinato, aprovou uma série de novas reformas. Estabeleceu uma força policial permanente, nomeou funcionários públicos para supervisionar a implementação da
reforma agrária e ordenou a reconstrução das cidades de
Cartago e
Corinto. Também estendeu o direito dos povos latinos por todo o mundo romano, e então aboliu o sistema de taxação e o reverteu para o sistema antigo onde eram as cidades que coletavam os impostos para si próprias, evitando a necessidade de intermediários (reduzindo a corrupção). Seu assassinato impediu a implementação de mais reformas, incluindo a construção de um grande templo de
Marte, um pomposo novo teatro e uma biblioteca maior que a
de Alexandria.
[122] Também queria converter a cidade de
Óstia num grande porto e criar um canal cortando
Istmo de Corinto. Militarmente, pretendia conquistar a
Dácia e também a
Pártia, para vingar a derrota romana em
Carras. Assim iniciou uma mobilização de tropas no leste. O senado o nomeou
censor em caráter vitalício e ainda o nomeou "Pai da Nação", e o mês
quintil foi renomeado
julho em sua honra.
[122]
Ele recebeu outras honras e nomeações oficiais em caráter vitalício. Essa acumulação de cargos foi mais tarde usada como um dos pretextos para o seu assassinato. Seus opositores afirmavam que César estava acumulando poderes de um rei. De fato, coisas comuns na era dos reis em Roma voltaram, como moedas sendo feitas com seu rosto e grandes e ostentosas estátuas. Ele mandou colocar no senado uma grande cadeira banhada em ouro, enquanto usava um pomposo vestido e iniciou uma forma não oficial de
culto a sua pessoa.
[122]
Reformas políticas
A reforma política que implementou em Roma é complicada. César tinha poderes
ditatoriais e de
tribuno, mas alternava nas funções de
cônsul e
procônsul. Seus poderes no Estado vinham destes magistérios.
[119] Foi nomeado ditador oficialmente pela primeira vez em
49 a.C., possivelmente para presidir as eleições, mas renunciou a este cargo onze dias depois. Em
48 a.C., foi renomeado ditador, só que desta vez por tempo indeterminado e, em
46 a.C., foi acertado um mandato de 10 anos.
[127] Em
48 a.C., ganhou poderes de tribuno em caráter vitalício, o que o tornou uma pessoa sacrossanta e lhe deu poder de
veto sobre o senado. César sofreu com a oposição do Colégio de Tribunos, mas após algumas prisões ninguém se opôs mais.
[128]
Quando César retornou em definitivo para Roma em
47 a.C., as cadeiras do senado estavam muito vazias, então usou seus poderes de censor para nomear novos senadores. Continuou a expandir o senado, que chegou a ter 900 membros.
[129] Todos os novos membros eram na verdade partidários de César, o que roubava o prestígio da aristocracia senatorial e tornou o senado subserviente. Para minimizar a chance de que algum outro
general pudesse desafiá-lo, César instituiu limites de tempo de mandatos para os governadores das províncias e territórios.
[127]
Em
46 a.C., César deu a si mesmo o título de "Prefeito da Moral", um cargo que existia apenas no nome, já que seus poderes eram os mesmos dos
censores.
[128] Assim, poderia exercer seus poderes censoriais sem ter que se submeter às mesmas leis que os outros censores e usou esta autoridade para encher o senado com simpatizantes seus. Também abriu um precedente, que seria seguido por seus sucessores imperiais, de ter o senado lhe dando vários títulos, honras e cargos. Tinha, por exemplo, o título de "Pai da Nação" e "
imperator" (comandante-em-chefe das forças armadas).
[127] Moedas foram cunhadas com a sua imagem e possuía o direito de ser o primeiro a falar nas sessões do senado, um privilégio reservado à autoridade maior.
[127] César também aumentou o número de magistérios eleitos por ano, aumentando o setor público com magistrados experientes e criando mais cargos para dar aos seus partidários.
[129]
César também deu os primeiros passos para tornar a
Itália em província e também tomou medidas para tornar as províncias unidades mais coesas. Isso resolvia alguns dos problemas causados pelas
Guerras Sociais de décadas antes, onde indivíduos fora de
Roma e longe de Itália não eram considerados "romanos", portanto não tinham os direitos que ter essa
cidadania dava. Assim, unificar o império e prezar pela sua unidade, em vez de dividi-lo em grupos com participações desiguais na vida pública, foi um sucesso, mas só seria completado de fato no reinado do seu sucessor,
Augusto.
[127]
Em fevereiro de
44 a.C., um mês antes do seu assassinato, César foi nomeado, em definitivo, como
ditador vitalício. Concentrando vasta autoridade, deu poderes aos seus tenentes e partidários, principalmente devido ao fato de ele se afastar regularmente da Itália a negócios.
[127] Em outubro de
45 a.C., renunciou ao posto de único
cônsul e trabalhou para que os dois eleitos que o sucederiam fossem seus partidários.
[129] Perto do fim da sua vida, César se preparou para uma guerra contra o
Império Parta. Devido a isso, tinha que se ausentar de Roma com frequência. Para garantir que os eleitos nos cargos, especialmente os cônsules, fossem seus simpáticos, determinou que ele mesmo nomearia diretamente todos os magistrados para o ano de
43 a.C.. No ano seguinte, estendeu isso para as eleições consulares e de tribunos. Assim, os magistrados não mais davam a ideia de que eram representantes do povo, mas sim do ditador.
[129]
Assassinato
O crescente acúmulo de poder por parte de César, em detrimento da aristocracia, irritou muitos senadores conservadores. Eles temiam que Júlio César estivesse tentando reerguer a monarquia, com ele mesmo na figura de rei. Um grupo de senadores (os
Liberatores) começou então a conspirar contra César e planejar seu assassinato, afirmando que ele havia se tornado um tirano e que somente sua morte restauraria a velha República Romana.
[131] Nos
idos de março (15 de março no
Calendário romano) de
44 a.C., César compareceu a uma sessão do
senado na
Cúria de Pompeu. Marco Antônio, tendo ouvido falar sobre o complô de um libertador assustado chamado
Servílio Casca, e temendo o pior, foi avisar César. Os conspiradores, contudo, anteciparam isso e enviaram Trebônio para interceptá-lo enquanto ele se aproximava do
Teatro de Pompeu, onde a sessão aconteceria, para pará-lo. Ao ver a agitação no senado (no momento do assassinato), Antônio fugiu.
Segundo
Plutarco, quando César chegou, o senador
Tílio Cimbro lhe apresentou uma petição para revogar o exílio imposto ao seu irmão.
[133] Os outros conspiradores se aproximaram sob o pretexto de oferecer apoio e cercaram César. Segundo Plutarco e
Suetônio, César dispensou o pedido mas Cimbro o agarrou pelo ombro e o puxou pela túnica. César então berrou para Cimbro: "Como assim, isso é violência!" ("
Ista quidem vis est!").
[134] Ao mesmo tempo, Casca pegou sua
adaga e partiu para o pescoço de César. Este, contudo, se virou rapidamente e pegou Casca pelo braço. De acordo com Plutarco, César teria dito, em latim, "Casca, seu vilão, o que você está fazendo?" (em
grego clássico:
ὁ μεν πληγείς, Ῥωμαιστί· 'Μιαρώτατε Κάσκα, τί ποιεῖς) Casca, assustado, gritou em
grego "Ajuda, irmão!" ("
ἀδελφέ, βοήθει", "
adelphe, boethei"). Poucos momentos depois, todos do grupo, incluindo Bruto, atacaram o ditador. César tentou se afastar mas, cego pelo sangue que escorria da cabeça, tropeçou e caiu. Mesmo no chão, no
pórtico, ele continuou a ser esfaqueado. De acordo com
Eutrópio, cerca de 60 homens participaram do assassinato. César teria sido esfaqueado 23 vezes.
O historiador Suetônio afirmou que um médico que examinou o corpo teria dito que apenas um ferimento, o infligido no peito, teria sido letal. Não se sabe quais foram as últimas palavras de César e isso ainda é assunto de debate entre historiadores e acadêmicos até os dias atuais. Suetônio disse que pessoas da época afirmaram que as últimas palavras de César, proferidas em grego, foram "Até você, criança?" ("
καὶ σύ, τέκνον"). Contudo, até Suetônio tem dúvidas e crê que César não disse nada. Plutarco também afirma que César não pronunciou nada antes de morrer, mas puxou sua toga sobre a cabeça quando viu Bruto entre os conspiradores. A versão mais famosa sobre o que Júlio César teria dito antes da morte é a célebre frase em
latim "
Et tu, Brute?" ("E você, Bruto?", comumente referida como "Até tu, Bruto?"); esta fala na verdade vem da peça
Júlio César, do dramaturgo
inglês William Shakespeare. Ela não tem qualquer base histórica e o uso do
latim por Shakespeare aqui vai de encontro à maioria das versões, que afirmam que César teria pronunciado palavras em
grego. Mas, de fato, a frase
Et tu, Brute? já era popular antes mesmo da peça.
De acordo com Plutarco, após o assassinato, Bruto deu um passo adiante como se fosse falar algo para os colegas senadores. Eles, contudo, fugiram às pressas do prédio. Bruto e seus companheiros próximos foram então pelas ruas gritando pela cidade: "Povo de Roma, nós somos novamente livres!" Contudo, com a história do que havia ocorrido se espalhando rapidamente, a maioria da população resolveu se trancar dentro de casa. O corpo de César permaneceu no chão do senado por mais três horas antes que fosse removido. O cadáver de César foi posteriormente cremado. No local onde a pira funerária estava ergueu-se o
Templo de César alguns anos mais tarde, a leste da praça principal do
Fórum Romano. Apenas o altar do templo está preservado até os dias atuais.
[144][145] Uma estátua de cera foi mais tarde erguida no Fórum, exibindo as 23 feridas.
[69]
Eventos após sua morte
Marco Antônio, o segundo em comando de César por muito tempo. Após sua morte, foi um dos que tentaram se aproveitar do legado político de César e tentou usá-lo, sem sucesso, para conseguir o poder máximo em Roma.
A série de eventos que aconteceram após sua morte pegou os seus assassinos de surpresa. Ao contrário do que os conspiradores acreditavam, a morte de César não ressuscitou a
República Romana e o
estado tomou a forma
imperial menos de duas décadas depois. As
classes média e baixa da sociedade romana, com as quais César era muito popular, ficaram enfurecidas pelo fato de um pequeno grupo de aristocratas ter assassinado o seu amado líder. Marco Antônio, que na verdade vinha se afastando de César, capitalizou a dor da plebe e ameaçou soltá-la sobre os
Optimates, talvez com o intuito de tentar tomar o poder total em Roma para si. Porém, para seu espanto, César havia nomeado um sucessor em testamento, seu sobrinho-neto
Otaviano, dando-lhe o posto de chefe da família (herdeiro do nome de César), e além disso lhe deu acesso a sua gigantesca fortuna.
Durante o funeral de César, as coisas esquentaram. Na enorme pira funerária feita, o povo compareceu em massa, jogando madeira no fogo, móveis e até roupas para alimentar as chamas. O fogo acabou ficando muito alto, danificando o
Fórum e causando outros danos. A multidão então atacou as casas de Bruto e Cássio, que foram obrigados a fugir para a
Macedônia. Os aristocratas acusaram Antônio de jogar o povo contra eles, levando a uma nova ruptura na liderança política romana, o que precipitaria em
nova guerra civil. Contudo, os rumos deste conflito não terminariam bem para nenhum desses dois, com a figura do sobrinho-neto e herdeiro vindo à proeminência. Otaviano, que tinha apenas 18 anos quando César morreu, mostrou-se um político habilidoso, e enquanto Antônio se preparava para enfrentar
Décimo Bruto na primeira fase da guerra civil, ele igualmente se preparava para sua ascensão na vida pública.
[147]
Bruto e Cássio, líderes da facção aristocrática contra César, estavam reunindo um exército na Grécia para recuperar o poder em Roma. Para combatê-los, Antônio precisava de sua própria tropa, além de dinheiro e de legitimidade, algo que pretendia conquistar no legado de César. Com inimigos em comum, Antônio e Otaviano, junto com o comandante
Lépido, se aliaram, confrontaram os assassinos de César e seus simpatizantes no senado e se saíram vitoriosos em batalha. Em 27 de novembro de
43 a.C., foi formalizada a
lex Titia que criou o
Segundo Triunvirato. Então, oficialmente
deificaram César como "Divino Júlio" (
Divus Iulius), em
42 a.C..
Já que a clemência de César para perdoar ex-inimigos acabou custando sua vida, o Segundo Triunvirato trouxe de volta a
proscrição, abandonada no governo de
Sula. Isso levou a uma série de assassinatos políticos para assim poderem pagar por suas legiões e vencer a guerra contra Bruto e Cássio. Em seguida, Otaviano, Antônio e Lépido se tornaram os governantes de Roma, sem qualquer rival. Contudo, o Segundo Triunvirato não ficaria em paz muito tempo. Marco Antônio formou uma aliança com a ex-amante de César, a rainha
Cleópatra, pretendendo usar as fortunas do Egito para dominar Roma. Uma
nova guerra civil eclodiu entre Otaviano e Marco Antônio. Durante este conflito, Otaviano se apoiou no fato de César tê-lo nomeado como seu sucessor e
adotado como filho e usou isso como uma fonte de legitimidade. Otaviano então conquistou o
Egito, forçando Antônio e sua rainha a cometerem suicídio. Então retornou para
Roma e, em
27 a.C., se tornou
César Augusto, o primeiro
imperador romano, dando a si mesmo estatuto de divindade.
Antes de sua morte, Júlio César havia planejado lançar uma invasão militar contra a
Pártia, o
Cáucaso e a
Cítia. Também pretendia marchar novamente contra a
Germânia e a
Europa Oriental. Vários generais lançariam campanhas contra a Germânia em nome de Augusto, porém com a derrota romana na
Batalha da Floresta de Teutoburgo em
9 d.C., não mais se tentaria dominar aquela região. Na Pártia, por sua vez, Augusto preferiu resolver o conflito romano-persa via diplomacia e conseguiu com isso o retorno dos
estandartes de guerra perdidos por Crasso na
batalha de Carras, uma vitória simbólica de grande impulso à moral romana.
Deificação
Júlio César se tornou o primeiro político romano importante a ser
deificado. Foi posteriormente agraciado com o título de "Divino Júlio" ou "Deificado Júlio" (
Divus Iulius ou
Divus Julius) por decreto do
senado romano em 1 de janeiro de
42 a.C. e a aparição de um
cometa durante os
jogos em sua honra foi usada para confirmar sua divindade. Apesar do seu
templo lhe ter sido dedicado apenas após sua morte, pode ter recebido estatuto divino já durante sua vida e logo depois de seu assassinado, Marco Antônio foi nomeado como o seu
flâmine (sacerdote). Tanto Otaviano quando Antônio promoveram o culto ao Divino Júlio. Após a morte de Antônio, Otaviano, como filho adotivo de César, assumiu o título de "Filho do Divino" (
Divi Filius).
Vida pessoal
Aparência e saúde
Retrato de Túsculo, um dos únicos bustos sobreviventes feitos ainda durante a vida de César
O historiador Suetônio descreve Júlio César como "alto em estatura com uma pele clara, membros bem torneados, um rosto cheio e olhos negros penetrantes." (em
latim:
excelsa statura, colore candido, teretibus membris, ore paulo pleniore, nigris vegetisque oculis.) Uma fala de uma peça de
William Shakespeare teria dito que César era surdo de um ouvido. Nenhuma fonte antiga relata isso. Shakespeare pode ter se baseado na passagem metafórica de Plutarco que não se refere a surdez, tendo mais a ver com um hábito de Alexandre da Macedônia. Ao cobrir sua orelha, Alexandre indicava que havia desviado sua atenção da acusação para poder ouvir a defesa.
Com base em Plutarco, acredita-se que César sofria de
epilepsia. Historiadores modernos se dividem neste assunto, com alguns afirmando que sofria de
malária. Muitos especialistas em medicina acreditam que em vez de epilepsia provavelmente teria apenas
enxaquecas muito fortes. Outros afirmavam que os surtos de epilepsia eram causados por uma
infecção parasitária no cérebro por
cestoda.
César teve quatro episódios documentados de ataques epiléticos. Pode ter tido uma '
crise de ausência' na sua juventude. Os primeiros casos de epilepsia foram relatados pelo historiador Suetônio, que nasceu depois da morte de César. Alguns historiadores afirmam que César poderia ter na verdade
hipoglicemia, que também pode causar ataques epiléticos.
[178] Em 2003, o psiquiatra Harbour F. Hodder publicou o que denominou como a teoria do "Complexo de César", argumentando que o general romano sofria de
epilepsia do lobo temporal e os sintomas debilitantes da condição eram um dos fatores de César ignorar sua segurança pessoal nos dias que antecederam sua morte.
Nome e família
Usando o
alfabeto latino do período, que não tinha as letras
J e
U, o nome de César teria sido escrito como
GAIVS IVLIVS CAESAR; a forma
CAIVS também é atestada, usando a antiga forma de representação romana
G por
C. A abreviação padrão é
C. IVLIVS CÆSAR, refletindo a abreviação antiga (a forma da letra
Æ é uma
ligadura das letras
A e
E, e é normalmente usada em
epigrafias em latim para salvar espaço).
[180] O
cognome César se tornou
um título; foi promulgado pela
Bíblia, que contém a famosa passagem "
A César o que é de César...". O título em alemão é chamado
Cáiser e nas
línguas eslavas é
Czar. A última pessoa a ter o título de Czar oficialmente foi
Simeão II da Bulgária, cujo reinado terminou em 1946.
[182]
Em
latim vulgar, a
consoante oclusiva /k/ antes da
vogal anterior começou, devido a palatalização, a ser pronunciada como uma
consoante africada, donde as renderizações
[ˈtʃeːsar] em
italiano e
[ˈtseːsar] na pronúncia regional do latim em
alemão. Com a evolução das
línguas românicas, a africada [ts] se tornou
fricativa [s] (portanto,
[ˈseːsar]) em muitas pronúncias regionais, incluindo na francesa, de onde a pronúncia em inglês é derivada. O /k/ original é preservado na
mitologia nórdica, onde é manifestado como o rei legendário
Kjárr.
[183] Em
português o nome é pronunciado
Sé-zár.
[180]
Árvore genealógica
[Expandir]
Árvore genealógica da dinastia júlio-claudiana
|
|
Legenda |
| descende |
| adoção |
| casamento | 1, 2 | ordem das esposas |
MAIÚSCULO | imperadores (ou ditador perpétuo, no caso de Júlio César) |
|
Parentes
- Pais
- Irmãs
- Esposas
- Filhos
- Netos
- Filho (sem nome) de Júlia e Pompeu, morto dias após seu nascimento (único neto de César).
- Amantes
- Parantes notórios
Rumores de práticas homossexuais
A sociedade romana via o papel de passivo na
relação sexual como um sinal de submissão e inferioridade. De fato, Suetônio disse que, supostamente, após o seu triunfo na Gália, seus soldados cantavam: "César conquistou os gauleses, mas Nicomedes conquistou César". De acordo com Cícero,
Bíbulo,
Caio Mêmio e outros inimigos de César afirmavam que ele mantinha relações sexuais com
Nicomedes IV da Bitínia no começo da sua carreira. Essas histórias se repetiam, referindo-se a César como a 'rainha de Bitínia', com o fim de humilhá-lo. César sempre negou essas acusações e, de acordo com
Dião Cássio, uma vez as negou sob juramento.
[205][206]
Esse tipo de campanha de difamação era comum entre políticos romanos na era republicana e quase sempre os difamados negavam as acusações. Uma tática de oposição a estas ações era acusar os rivais políticos de viverem um estilo de vida helênico baseado na cultura grega e oriental, onde a
homossexualidade e um estilo de vida exagerado eram mais aceitos do que na tradição romana.
[205][206] Cátulo escreveu dois poemas que diziam que César e seu engenheiro
Mamurra eram amantes, mas depois se desculpou por insinuar isso.
Marco Antônio, por sua vez, afirmou que Otaviano ganhou a adoção por César através de favores sexuais. Suetônio descreveu as acusações de Antônio como pura
difamação política.
Trabalhos literários
Uma edição de 1783 de
As Guerras Gálicas.
Durante a sua vida, César foi considerado um dos melhores oradores e autores de prosa em
latim — até mesmo Cícero falava bem sobre a retórica e estilo dele. Apenas os comentários de César sobre as guerras foram conservados. Algumas frases de outros trabalhos são citadas por outros atores. Entre um dos seus trabalhos que se perderam com o tempo, sua oração fúnebre (
Laudatio Iuliae amitae) para a sua tia paterna,
Júlia, e seu
Anticato, um documento escrito para difamar
Catão, o Jovem em resposta aos elogios de Cícero a ele. Os "
Poemas de Júlio César" também são usados como fontes por trabalhos de historiadores antigos.
Memórias
- O Commentarii De Bello Gallico, conhecido em português como "Comentários da Guerra Gálica", são sete livros cada um cobrindo um ano da campanha na Gália e no sul da Grã-Bretanha em 50 a.C., com o oitavo sendo escrito por Aulo Hírcio nos últimos dois anos.
- O De Bello Civili, conhecido em português como "Sobre a Guerra Civil", relata os eventos da guerra civil, na perspectiva de César, até a morte de Pompeu no Egito.
FONTE: https://pt.wikipedia.org/wiki/Júlio_César
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